Viver é como andar de bicicleta: é preciso estar em constante movimento para manter o equilíbrio.
– Albert Einstein
Movimento é uma marca dos seres vivos.
De movimentos microscópicos em direção à luz até as migrações do Serengueti, de grandes navegações à corrida espacial, seres vivos se movimentam.
Quando humanos ainda eram caçadores-coletores, o movimento era o que os mantinha vivos. Era preciso buscar opções, fugir de predadores, explorar diferentes territórios, forragear. Ou seja, mover-se!
Hoje percorremos muitos quilômetros por modais de transporte que nos levam mais longe do que nossos próprios pés nos possibilitaram em outras épocas. Mas, ao mesmo tempo, ao longo dos milênios, estamos nos movimentando menos, de forma cotidiana. A tecnologia tem facilitado significativamente as nossas vidas. Não precisamos ir no mercado, podemos trazer o mercado para perto. Não precisamos ir no restaurante, o restaurante vai até nós, onde estivermos. Muitas atividades são realizadas de forma online, no conforto do nosso quarto – desde trabalho, reuniões, aulas e até terapia. Acompanhamos com facilidade o que está acontecendo em qualquer lugar do mundo, sem sair de casa. E temos informações sobre a vida de qualquer amiga sem precisar ir visitá-la ou conversar com ela.
Não sabemos ainda o que a restrição do movimento pode produzir em nossa civilização.
Porém, há um estudo que avaliou a relação entre movimento e bem estar. Um grupo de 106 pacientes diagnosticados com diversos transtornos psicológicos tiveram seus movimentos acompanhados por GPS por uma semana. Alguns pacientes estavam internados em clínica e outros usavam o hospital dia. Os pesquisadores verificaram que os padrões de movimento capturados pelo GPS foram preditores para o bem-estar e para a flexibilidade psicológica (aquela da Terapia de Aceitação e Compromisso – ACT), cujo nível foi mensurado em escalas específicas. Níveis maiores de depressão foram associados a movimentos individuais em áreas geográficas mais restritas. Quanto mais psicologicamente flexíveis os pacientes eram, maior era a área percorrida, mais variados eram os locais visitados e mais ampla atividade individual.
Outro estudo muito divertido que trata de movimento ensinou ratos a dirigirem carrinhos. Eles entravam livremente em carrinhos especialmente construídos e ganhavam marshmallows quando chegavam ao destino proposto.
Há vários achados interessantes nesse estudo. O primeiro é que todos os ratos foram capazes de aprender a dirigir, mesmo sendo uma tarefa altamente complexa, e não realizada naturalmente por ratos. Ou seja, se um rato consegue dirigir, você, que é humano, consegue fazer muita coisa, com a contingência adequada.
O segundo achado, e o principal, é que ratos que viveram em ambientes mais estimulantes aprenderam a dirigir mais rapidamente. Alguns ratos ficavam em gaiolas coletivas e enriquecidas. Elas tinham diferentes andares e ambientes e os animais podiam explorar objetos que eram trocados a cada semana, como pedaços de madeira e bolinhas de plástico. Um outro grupo de ratos foi mantido em gaiolas padrão, menores, sem variação de objetos. Os ratos que ficaram nas gaiolas enriquecidas tiveram melhor desempenho na direção, entravam no carrinho mais rapidamente, e continuaram mantendo interesse na atividade mesmo quando já não recebiam mais a recompensa. Ou seja, ambientes ricos e diversificados apresentam maiores oportunidades de interações e, consequentemente, permitem o desenvolvimento de um portfolio mais amplo de comportamentos complexos potenciais.
Os pesquisadores também mediram dados hormonais de todos os ratos. Para todos, independentemente da gaiola que estavam, foram observados redução dos marcadores de estresse e aumento dos marcadores de bem-estar. Isso pode indicar que aprender e desenvolver novas habilidades de repertório comportamental, com a possibilidade de controlar seu próprio ambiente, faz bem.
Juntando tudo: em um mundo onde a tecnologia nos oferece cada vez mais conveniências e possibilidades de permanecer parados, os estudos mostraram a importância do movimento e nos convidam a refletir sobre a direção que estamos tomando em nossas vidas. Assim como os ratos que mostraram melhor desempenho em ambientes ricos e desafiadores, nós também precisamos de estímulos e diversidade em nossas experiências para alcançar bem-estar e flexibilidade psicológica. Movimentar-se não é apenas uma questão de deslocamento físico, mas de expandir horizontes e manter-se em constante aprendizado.
Afinal, o que realmente nos move é a capacidade de evoluir e nos adaptar, e aonde queremos chegar depende de quão dispostos estamos a explorar os caminhos à nossa frente.
Para saber mais:
Battalio, R., Green, L., & Kagel, J. (1995). Economic choice theory. an experimental analysis of animal behavior (No. 00166). The Field Experiments Website.
Crawford, L. E., Knouse, L. E., Kent, M., Vavra, D., Harding, O., LeServe, D., Fox, N., Hu, X., Li, P., Glory, C., & Lambert, K. G. (2020). Enriched environment exposure accelerates rodent driving skills. Behavioural brain research, 378, 112309. https://doi.org/10.1016/j.bbr.2019.112309
Gloster, A.T., Meyer, A.H., Klotsche, J. et al. The spatiotemporal movement of patients in and out of a psychiatric hospital: an observational GPS study. BMC Psychiatry, 21, 165 (2021). https://doi.org/10.1186/s12888-021-03147-9
Como citar este artigo (APA):
Carreiro, P. L. (2024, 6 de setembro). O que move você? E aonde você vai?. Blog do IBAC. https://ibac.com.br/o-que-move-voce-e-aonde-voce-esta-indo/