Ora, a fé é o firme fundamento das coisas que se esperam, e a prova das coisas que não se veem.
Hebreus 11:1

Muitos psicólogos possuem dificuldade em falar sobre a fé.
Mas a fé é um conjunto de comportamentos e os analistas do comportamento entendem que o comportamento é uma variável dependente que interage com o ambiente (i.e. tudo aquilo que afeta o comportamento do organismo).
Por que não falarmos sobre a fé, então?
Tenho para mim que o tratamento da depressão – se é que podemos chamar de tratamento – é desafiador tanto para o terapeuta quanto para o paciente. Muitos clientes chegam até o consultório sem muitas esperanças de que a psicoterapia ajudará de alguma forma. Muitos clientes chegam até você, depois de passar por muitos outros profissionais e, acredite, isso é cansativo.
Talvez esse cliente esteja querendo se ver livre da depressão, da tristeza, da raiva ou de qualquer outro estado emocional presente. Talvez esse cliente tenha se esforçado muito para isso, até perceber (ou não perceber) que essa estratégia não funciona. A gente não se livra da depressão.
E então, muitos deles, se vêm em um cenário apocalíptico e de mundo sofrimento e tudo que eles querem é se evitar que o mundo desmorone.
E você, terapeuta, vem com aquele papo de que “a gente precisa estar disposto a aceitar as nossas emoções e dar espaço para que novas experiências cheguem”. Mas admita: Você não sabe exatamente quais experiências vão chegar e o seu cliente (que está segurando o mundo dele) também não.
E aqui, a gente emite um comportamento de fé. Acreditar naquilo que não se vê – ainda.
Você então faz uma análise funcional molecular e molar e diz para si mesmo: “falta reforçadores para essa pessoa, então vamos produzir esses reforçadores”. Você propõe isso para o seu cliente e diz o quanto você acredita que isso pode o ajudar a sair do fim do mundo (ou pelo menos conseguir sair da cama).
Você está solicitando fé ao seu cliente. Você sabe que há muitas variáveis que não se tem controle em um processo terapêutico. Mas você está pedindo para seu cliente ir em busca de contextos que alimentem autoestima, autoconfiança e qualquer outra meta que vocês estabeleceram juntos.
Em resumo, a fé não é uma força interior. A fé é um comportamento.
Ter fé é testar hipóteses. Sabe – como um bom cientista?
Muito além de religião, meu desejo é que hoje você convoque sua fé e faça algo que te aproxime de uma vida onde a depressão será apenas um detalhe. Uma vida valiosa demais para não ser vivida.
Eu não faço ideia de como será o amanhã. Mas um dia eu ouvi por ai que a fé não costuma falhar e eu botei fé nisso.
Se você não ouviu isso ainda, ouça:
Muita fé pra ti!
E não deixe de me acompanhar no instagram: @leonanpsi_
Sugestões de leitura
Prette, Z. A. P. D., & Prette, A. D. (2017). Habilidades sociais e análise do comportamento:: proximidade histórica e atualidades. Perspectivas Em Análise Do Comportamento, 1(2), 104–115. https://doi.org/10.18761/perspectivas.v1i2.33
Gontijo, D. F., & Rabelo, A. L. A. (2012). BOTTON, Alain de. Religião para Ateus. HORIZONTE-Revista de Estudos de Teologia e Ciências da Religião, 10, 667-670. https://periodicos.pucminas.br/index.php/horizonte/article/download/P.2175-5841.2012v10n26p667/4016
Gontijo, D. F., Silva, D. M. R., & Damásio, B. F. (2022). Religiosity/spirituality and mental health: evidence of curvilinear relationships in a sample of religious people, spirituals, atheists, and agnostics. Archive for the Psychology of Religion, 44(2), 69-90. https://doi.org/10.1177/0084672422110219
Luiz, A., & Knaut, J. de F. F. (2017). Um diálogo entre a Análise do Comportamento e a Psicologia Evolucionista sobre a influência da filogênese no surgimento do comportamento religioso. Revista Brasileira De Terapia Comportamental E Cognitiva, 19(1), 71–77. https://doi.org/10.31505/rbtcc.v19i1.952
Como citar este artigo (APA):
Pereira, L. (2025, 5 de junho). Não se trata depressão SEM FÉ. Blog do IBAC. https://ibac.com.br/nao-se-trata-depressao-sem-fe/