A regulação emocional (RE) tem sido um tema de interesse de psicólogos clínicos, neuropsicólogos e psiquiatras desde a década de 80. O interesse crescente se fundamenta na quantidade, cada vez maior, de estudos demonstrando que boas habilidades de regulação emocional são um fator protetivo para a saúde mental e também parte essencial para um bom funcionamento executivo.
Enquanto analistas do comportamento, acredito que muitos de vocês já conheçam, ou tenham ouvido falar, na Terapia Comportamental Dialética, ou DBT, para os íntimos. Esse texto é um ensaio do que venho inferindo durante meus estudos sobre regulação emocional, análise do comportamento e neuropsicologia.
Por isso, hoje quero apresentar para vocês o Modelo Processual de Regulação Emocional proposto por James Gross, o modelo teórico de RE com mais suporte empírico da atualidade. O objetivo aqui não é disputar qual modelo é melhor ou pior, mas mostrar que os dois modelos se aproximam e se complementam e, quando utilizados juntos, podem aperfeiçoar a nossa prática clínica.
Quando falamos em “Funções Executivas” tendemos a pensar nos processos de atenção, planejamento, alternância, memória e controle inibitório (esses são alguns exemplos, não exaustivos). Mas, por que não pensar na regulação emocional como um dos aspectos desse enorme, e mal compreendido, guarda-chuva que chamamos de Funções Executivas?
De acordo com o Modelo Modal das Emoções, proposto por James Gross (2014), as emoções envolvem processos transicionais pessoa-situação que despertam a atenção, possuem significado para um indivíduo a partir dos objetivos ativos e dão origem a respostas multissistêmicas coordenadas, porém flexíveis, que modificam a transação pessoa-situação em andamento. A ideia-chave do modelo é que as respostas emocionais geralmente levam a mudanças no ambiente que alteram a probabilidade de ocorrências subsequentes dessa e de outras emoções.
Já a regulação emocional seria o processo cognitivo capaz de controlar ou selecionar a resposta mais adequada para cada situação enfrentada, sendo o processo pelo qual o indivíduo influencia as emoções que sente, quando as sente e como ele sente e externa tais emoções. Estabelecendo cinco pontos nos quais a emoção pode ser regulada:
(1) Seleção da situação, que envolve a realização de ações que aumentam ou diminuem a probabilidade entrar em uma situação que dê origem a emoções desejáveis ou indesejáveis;
(2) Modificação da situação, na qual situações potencialmente eliciadoras de emoção não levam inevitavelmente a respostas emocionais;
(3) Redirecionamento da atenção, que diz respeito a redirecionar a atenção com o objetivo de gerenciar as emoções;
(4) Mudança cognitiva, que se refere a mudar a forma de avaliação da situação com finalidade de alterar seu significado emocional;
(5) Modulação da resposta, refere-se a influenciar diretamente a resposta fisiológica, experiencial ou comportamental.
Entendemos que a regulação emocional é um processo cognitivo complexo, que pode ser consciente ou inconsciente, automático ou controlado, que altera o ambiente e é alterado por ele.
Para a Terapia Comportamental Dialética (DBT) emoções são respostas breves, involuntárias, sistêmicas e com um padrão de ações a estímulos internos e externos, fazendo parte de seis subsistemas que funcionam em interação: vulnerabilidade emocional a pistas ambientais; eventos internos e/ou externos que, quando atendidos, servem de pistas emocionais; avaliação e interpretações desses sinais; tendências de resposta, (incluindo respostas neuroquímicas e fisiológicas, respostas experienciais e impulso de ação); respostas, ações e expressões não verbais e verbais e, por último, efeitos colaterais do “disparo” emocional inicial, incluindo as emoções secundárias. Dessa forma, uma dificuldade em qualquer parte do sistema de regulação emocional pode ser base biológica para a vulnerabilidade emocional inicial e para as dificuldades posteriores na regulação das emoções. Dessa maneira, para a DBT, a regulação emocional é caracterizada como a capacidade de:
(1) Inibir o comportamento inapropriado e impulsivo relacionado a fortes emoções negativas ou positivas;
(2) Organizar-se internamente para uma ação coordenada em prol de um objetivo externo;
(3) Reduzir a intensidade de qualquer ativação fisiológica que a forte emoção tenha induzido; e
(4) Alternar o foco atencional na presença de uma emoção intensa.
O Modelo Processual e a DBT têm muitos pontos em comum. Ambos os modelos ressaltam a importância de prestar atenção as dicas emocionais-contextuais relevantes para o indivíduo, destacando que a forma que o sujeito percebe e avalia a situação emocional (comportamento privado) influencia diretamente o curso da emoção, e, consequentemente, a expressão comportamental (comportamento público) dessa emoção, que modifica o ambiente e, por sua vez, é modificado pelas consequências dessa expressão comportamental.
Por fim, deixo-lhes uma velha conhecida – que permanece tão atual – frase do Skinner:
“Os homens agem sobre o mundo e o modificam e, por sua vez, são modificados pelas consequências de sua ação” (Skinner, 1957).
Bibliografia:
Gross, J. J. (2014). Handbook of emotion regulation (2nd ed.). New York: The Guilford Press.
Linehan, M. M. (2018). Treinamento de Habilidades em DBT: Manual de terapia comportamental dialética para o terapeuta (2a ed.). São Paulo: Artmed.
Escrito por:
Nathália Vasconcelos
Psicóloga clínica (CRP 03/25702). Pós-graduanda em Neuropsicologia Clínica Comportamental (IBAC).