A Psicoterapia Analítica Funcional (FAP) é um modelo terapêutico fundamentado nos princípios da psicologia comportamental e ciência comportamental contextual. Inicialmente focada em interações únicas entre terapeuta e cliente, evoluiu para incorporar uma compreensão mais ampla da dinâmica interpessoal (Kohlenberg e Tsai, 2001; Holman et al., 2022). Ao aplicar os princípios da FAP, terapeutas podem ajudar clientes a reconhecer padrões de comportamento que afetam suas relações íntimas, incentivando mudanças positivas em dinâmicas sociais importantes, como a familiar ou a conjugal.
A Awareness Courage and Responsiveness Scale (ACRS) é uma ferramenta desenvolvida por Kuczynski et al. (2020) e utilizada na FAP para medir habilidades essenciais no processo terapêutico. Baseada no Modelo Consciência, Coragem e Amor (ACL), a ACRS avalia cinco construtos essenciais que são descritos abaixo:
- Consciência sobre o Outro: Descreve a capacidade de prestar atenção às reações emocionais do outro durante a interação, tornando-se consciente das respostas emocionais de um parceiro íntimo (Kuczynski et al., 2020).
- Consciência Pessoal: Envolve a capacidade de autoconsciência, isto é, estar ciente de suas próprias reações emocionais e processos internos que influenciam a relação de intimidade (Kuczynski et al., 2020).
- Coragem: Refere-se à disposição de assumir riscos emocionais e comportamentais em prol do crescimento e da mudança. Isso inclui a expressão de emoções genuínas, a exposição da vulnerabilidade e o alinhamento com os valores pessoais (Kuczynski et al., 2020).
- Responsividade: Construto nomeado alternativamente, mas correspondendo ao “amor” do Modelo ACL, é uma descrição qualitativa da resposta de um indivíduo à vulnerabilidade do outro. Envolve compreensão, validação e respostas de cuidado às expressões emocionais do outro (Kuczynski et al., 2020).
- Intimidade: Se refere à pontuação total na escala, indicando a capacidade do respondente de criar e manter relacionamentos íntimos profundos, sinceros, abertos, vulneráveis e de apoio (Kuczynski et al., 2020).
Originalmente desenvolvida em inglês, para que a ACRS possa ser usada no Brasil, é necessária a adaptação para o contexto brasileiro, que visa garantir que os termos e conceitos sejam compreendidos e aplicáveis à população local em toda sua diversidade. Por exemplo, durante o processo de adaptação, é fundamental considerar se as expressões de afeto e proximidade contidas na ferramenta são percebidas e vivenciadas da mesma forma por indivíduos estadunidenses e brasileiros.
Um processo de tradução sistemático e metodológico, conforme descrito por Wild et al. (2005), deve ser construído por muitas mãos (passa pela equipe de pesquisa, por tradutores externos, por avaliadores da tradução, etc.), e permite que profissionais usem o material traduzido com maior segurança, e de fato adaptado para a população do país em questão.
Para o caso da ACRS, isso não só viabiliza avaliações mais precisas da qualidade dos relacionamentos de seus clientes, mas também oferece insights valiosos para melhorar intervenções terapêuticas focadas na construção e manutenção de relacionamentos interpessoais. Além disso, pode tornar-se um instrumento facilitador para a execução de pesquisas replicáveis e de delineamentos sofisticados, como os ensaios clínicos randomizados, em FAP.
A tradução supracitada está sendo realizada pelo Grupo de Pesquisa em Psicoterapia Analítica Funcional do IBAC, espera-se que ao concluir o projeto, a versão em português da ACRS possa se tornar uma ferramenta valiosa para profissionais de saúde e auxilie na melhora das relações interpessoais.
Referências
Holman, G. et al. (2022). Psicoterapia Analítica Funcional descomplicada: guia prático para relações terapêuticas. Novo Hamburgo: Sinopsys Editora.
Kohlenberg, R. J.; & Tsai, M. (2001). Psicoterapia Analítica Funcional: Criando relações terapêuticas intensas e curativas. ESETec.
Kuczynski, A. M. et al. (2020). Measuring intimacy as a contextual behavioral process: Psychometric development and evaluation of the Awareness, Courage, and Responsiveness Scale. Journal of Contextual Behavioral Science, 16, 199-208. https://doi.org/10.1016/j.jcbs.2019.02.004
Wild, D. et al. (2005). Principles of good practice for the translation and cultural adaptation process for patient-reported outcomes (PRO) measures: report of the ISPOR task force for translation and cultural adaptation. Value in health, 8(2), 94-104. https://doi.org/10.1111/j.1524-4733.2005.04054.x
Como citar este artigo (APA):
Soares, L. M., Matias, L., Oliveira, L., & Xavier, R. N. (2024, 2 de julho). Explorando a Psicoterapia Analítica Funcional: Ferramenta para Avaliar as Habilidades para Relações Interpessoais. Blog do IBAC. https://ibac.com.br/explorando-a-psicoterapia-analitica-funcional-ferramenta-para-avaliar-as-habilidades-para-relacoes-interpessoais