Você sente tédio?

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Na nossa sociedade cada vez mais hedonista, fugimos de tudo aquilo que não nos traga prazer. O mesmo ocorre com os sentimentos tidos como “ruins”. É o caso da tristeza, da solidão, da dor, da preocupação, da ansiedade, do tédio. Mas fugir de tais sentimentos é uma luta perdida.

Vejo hoje pais muito preocupados em não deixar seus filhos sofrerem, em controlar todas as variáveis “pra dar tudo certo”, mas isso leva a uma armadilha enorme: a alegria só faz sentido se você souber o que é a tristeza, o prazer/descanso só é pleno se você, antes, se cansou… Estamos produzindo uma geração que não conhece esse contraste; logo, que vive em uma espécie de “vazio”, de falta de vontade, de tédio.

“Num mundo tão acessível, o homem contemporâneo busca o prazer imediato, o qual é descartável. Com a exacerbação do prazer pelo prazer, a pessoa se esvazia e tira de si própria a oportunidade de experimentar, na sua essência, afeto por outras pessoas. Seu mundo interno se transforma num grande buraco, cheio de sentimento de irrealidade, de estranheza, de vazio existencial e de uma consequente solidão desamparada” (Carneiro & Abritta, 2008).

Ora, aprendemos então desde pequenos a afastar os sentimentos ruins. Invariavelmente, isso nos priva de tentar realizar várias coisas das quais poderíamos nos orgulhar. Poderíamos sentir prazer e sentido na vida; mas, pelo medo (probabilidade) de errar, deixamos de fazê-las e ficamos no “mais do mesmo”, na zona de conforto que agora já não é tão confortável.

“Na maioria dos ensinamentos, desde que o bebê nasce ele não aprende que a felicidade e tristeza fazem parte da vida, em vez disso, ele aprende que a felicidade deve ser almejada, e que o correto é que ela esteja sempre presente em seu cotidiano, enquanto a tristeza deve ser rejeitada. Acaba-se entendendo a tristeza e todos os outros eventos privados aversivos como sinônimos de problema, os quais precisam ser solucionados e eliminados o mais rápido possível, gerando comportamentos de fuga e esquiva.” (Lopes, Wendland & Jorge, 2021)

Por fim, não precisamos supor que a vida seja um “vale de lágrimas” ou um lugar para “expiar os pecados”, mas também não podemos achar que estamos na vida a turismo! Um equilíbrio é necessário e, para entendê-lo, é de fundamental importância a correta leitura do contexto a sua volta e uma constante autorreflexão sobre tudo o que se passa e o que se sente. Como podemos encontrar na belíssima “Oração da Serenidade”:

“Concedei-nos, Senhor, a serenidade necessária para aceitar as coisas que não podemos modificar, coragem para modificar aquelas que podemos e sabedoria para distinguir umas das outras”

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Bibliografia

Carneiro, Cláudia, & Abritta, Stella. (2008). Formas de existir: a busca de sentido para a vida. Revista da Abordagem Gestáltica, 14(2), 190-194. Recuperado em 20 de junho de 2022, de http://pepsic.bvsalud.org/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1809-68672008000200006&lng=pt&tlng=pt.

Lopes, G. F. E.; Wendland, C. S.; Jorge, C. C (2021). Análise do comportamento e a felicidade: contribuições da terapiade aceitação e compromisso para o manejo clínico do comportamento privado. Akrópolis, Umuarama, 29(1), 17-27. https://doi.org/10.25110/akropolis.v29i1.7915

Gouvea, Pedro. Vazio existencial e ansiedade social: a análise do comportamento tem algo a dizer? Portal Comporte-se. Recuperado em 20 de junho de 2022, de https://comportese.com/2018/06/28/vazio-existencial-e-ansiedade-social-a-analise-do-comportamento-tem-algo-a-dizer/#comments

Escrito por:

Breno Borges Magalhães (CRP 21/02503)

Psicólogo da Equipe do IBAC.

Escrito por:

Colaboração

Textos produzidos com autoria de colaborador(a) do IBAC

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