Terapia baseada em processos: uma mudança de paradigma na saúde mental

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Nos últimos cem anos, a área da psicologia clínica passou por diversas mudanças na forma de avaliar as evidências produzidas para a prática terapêutica. Essa jornada se baseou, tradicionalmente, na lógica sindrômica: a eliminação ou redução de sintomas de transtornos mentais. Protocolos específicos foram majoritariamente desenvolvidos para o tratamento de transtornos específicos, com base nos critérios diagnósticos descritos no Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais (DSM).

Conforme esse paradigma foi se consolidando, algumas críticas foram levantadas. Entre elas, podemos destacar: a classificação baseada em categorias diagnósticas psiquiátricas pode minimizar ou ignorar fatores contextuais; o paradigma frequentemente enfatiza técnicas específicas para sintomas específicos, dando menor atenção à fundamentação teórica; o surgimento de um número enorme de protocolos específicos e complexos, dificultando o treinamento e capacitação de terapeutas.

A partir dessas (e outras) críticas, foi-se desenvolvendo um novo paradigma dentro da Prática Baseada em Evidências: a Terapia Baseada em Processos (TBP). A TBP é caracterizada por uma perspectiva transdiagnóstica, e afirma que os mesmos processos biopsicossociais podem estar envolvidos no desenvolvimento de diferentes transtornos. Assim, ao invés de desenvolver protocolos específicos para transtornos específicos, a TBP propõe que a pesquisa deve ser focada na identificação e investigação de processos centrais de mudança.

Em concordância com as ideias de Skinner e de outros behavioristas radicais, a TBP nos mostra que comportamentos “patológicos” se baseiam em processos comuns na vida humana. São comportamentos que fazem sentido dentro do contexto e história de vida do cliente. Nossos conceitos sobre o que é normal e o que é patológico são desafiados.

Essa perspectiva contextualista nos dá mais espaço para nos perguntamos qual é a função daquilo que chamamos de sintoma. Podemos aprender melhor não apenas “como” uma intervenção deve ser feita para atingir resultados definidos, mas o “porquê” de ela funcionar. A compreensão de processos biopsicossociais nos aproxima de uma compreensão do comportamento humano em geral, nos colocando em melhor posição para desenvolver novas estratégias e pensar em novos modos de se fazer a prática clínica.

Bibliografia

Banaco, R. A., Kovac, R., Martone, R. C., Vermes, J. S., & Zamignani, D. R. (2012). Psicopatologia. In M. M. C. Hubner, & M. B. Moreira (Eds.), Fundamentos de Psicologia: Temas clássicos de psicologia sob a ótica da análise do comportamento (pp. 154-166). Rio de Janeiro: Guanabara Koogan.

Banaco, R. A., Zamignani, D. R., & Meyer, S. B. (2010). Função do comportamento e do DSM: Terapeutas analítico-comportamentais discutem a psicopatologia. In E. Z. Tourinho, & S. V. Luna. (Orgs.), Análise do comportamento: Investigações históricas, conceituais e aplicadas. (pp. 175-191). São Paulo: Roca.

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Hayes, S. C., & Hofmann, S. G. (2020). Terapia Cognitivo-Comportamental Baseada em Processos: Ciência e Competências Clínicas. Artmed Editora.

Hofmann, S. G., & Hayes, S. C. (2018). TCC Moderna CBT: Movendo-se em direção a terapias baseadas em processos. Revista Brasileira de Terapias Cognitivas14(2), 77-84. http://dx.doi.org/10.5935/1808-5687.20180012

Escrito por:

Gustavo Neves

Psicólogo (CRP 04/60153) Especialista em Análise Comportamental Clínica (IBAC)

Escrito por:

Colaboração

Textos produzidos com autoria de colaborador(a) do IBAC

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