Já te perguntaram o motivo pelo qual você escolheu estudar psicologia?
Não sei exatamente qual é a sua resposta para essa pergunta, mas eu, até hoje, não tenho uma resposta, então, optava pelo caminho mais simples: “Gosto de cuidar das pessoas e quero ajudar o mundo a se tornar um lugar melhor para (sobre)vivermos”.
Acontece que essa resposta nunca me apeteceu.
Cuidar de pessoas é algo muito amplo. É possível cuidar de pessoas através de outras profissões direta ou indiretamente e ajudar o mundo… dá pra ajudar de tantas formas. Por que a Psicologia foi a forma que eu escolhi, então?
Quando eu entrei na faculdade, eu percebi que eu tinha uma visão sobre a Psicologia que não condizia muito com a realidade dessa ciência. Era uma idealização, muito romântica por sinal, de que o psicólogo é aquela figura quase oniciente e de postura elegante que conseque “adentrar a mente” das pessoas através de questionamentos, minhas referências eram “O Mentalista” e outras representações feitas em séries de TV sobre investigações criminais.
Também acreditava que ser psicólogo era transformar histórias díficeis em histórias felizes.

Doce ilusão.
Gostaria que tivessem me dito que parte do sofrimento humano é mantido pelas estruturas sociais, históricas e econômicas. Gostaria que tivessem me dito que eu me sentiria impotente frente a dor de pessoas que convivem diariamente com a violência, com a discriminação, com a incerteza. Pessoas que apenas estão tentando “dar conta” da realidade como ela está acontecendo.
Gostaria que tivessem me dito que eu não me tornaria um “exterminador de sentimentos”.
Gostaria também que me dizessem que psicólogos são uma classe profissional que pode ser muito unida, mas também extremamente aversiva. Gostaria que me lembrassem que psicólogos são humanos: São acolhedores e respeitosos, mas também podem ser competitivos, arrogantes e extremamente individualistas.
E claro, eu gostaria que me dissessem o quanto ser psicólogo não torna ninguém um ser humano especial. Mas sim um ser humano que precisa ter seus direitos garantidos pessoal e profissionalmente falando.
Mas eu precisava ouvir o tanto de coisas boas que aconteceriam na minha vida através da psicologia. Queria que me contassem quantas pessoas especiais eu conheceria, pessoas que eu só via nos livros. Quantas experiências ÚNICAS eu vivenciaria ao me envolver com diferentes grupos, como o IBAC. E se me dissessem que, sim, eu ajudaria muita gente a viver melhor, mesmo não sendo um exterminador de sentimentos “ruins”?
Como eu queria ouvir que eu estaria tão feliz por não ter desistido!
Ninguém me avisou. E que bom, pois toda experiência é individual. Pode ser que daqui a uns anos você escreva um texto dizendo o que gostaria de ter ouvido na faculdade e seja totalmente diferente do meu.
A experiência de estar vivo não costuma ser fácil pra ninguém, a de ser psicólogo também não. Todavia, essa experiência pode ser repleta de SIGNIFICADO.
Esteja próximo de pessoas que te valorizam e se importam com você.
Grupos, amigos e professores que, além de conhecimento, transpirem valores condizentes com os seus!
Vá a congressos, escreva, flerte com outras áreas do conhecimento, produza e transmita conhecimento. Se coloque em situações desafiadoras (que valham a pena). Faça o que você acredita.
Talvez só agora eu entenda que não é tão relevante o motivo pelo qual eu escolhi ser psicólogo, mas sim o que me motiva a continuar sendo. É, talvez, mais importante que eu entenda o quanto eu estou comprometido com meus valores ao exercer a psicologia como profissão.
Pensando bem, essa última frase é o que eu realmente precisava que tivessem me dito na faculdade.
Como citar este artigo (APA):
Pereira, L. (2025, 18 de abril). O que eu gostaria de ter ouvido quando eu ainda estava na faculdade de psicologia. Blog do IBAC. https://ibac.com.br/o-que-eu-gostaria-de-ter-ouvido-quando-eu-ainda-estava-na-faculdade-de-psicologia/