Imagine que você está em um palco iluminado, no centro de um grande teatro, com todas as luzes focadas em você. Nesse momento, você sente que todos os olhares estão direcionados aos seus comportamentos. Essa sensação de ser observado intensamente é o que os psicólogos sociais chamam de “Efeito Holofote” e refere-se ao fenômeno pelo qual as pessoas tendem a acreditar que estão sendo notadas, julgadas ou avaliadas por outras pessoas com mais atenção do que realmente estão (Gilovich, Medvec & Savitsky, 2000).
Esse efeito pode se manifestar em diversas situações sociais. Por exemplo, quando você está em um grupo e acha que todos estão prestando muita atenção em como você está se comportando, o Efeito Holofote está em ação. Isso pode ocorrer em eventos sociais, apresentações públicas, entrevistas de emprego, entre outros contextos. Em muitos casos, essas situações tendem a eliciar respostas de ansiedade, onde a pessoa se sente excessivamente preocupada com a avaliação dos outros e com ser julgada de maneira negativa. Além da ansiedade social, o Efeito Holofote pode contribuir para o surgimento de fobias sociais, agravar transtornos de ansiedade generalizada e alimentar autocrítica, perfeccionismo e problemas emocionais como depressão, necessitando frequentemente de intervenção terapêutica para promover o bem-estar psicológico.
Do ponto de vista da Análise do Comportamento, o “Efeito Holofote” está relacionado com a possibilidade de que o comportamento de um indivíduo fique sob controle de reforçadores sociais (Skinner, 1953), ou seja, reforçadores advindos do comportamento de outras pessoas. Nesses termos, a “atenção”, “prestígio”, “reconhecimento”, “aplausos” e outros similares são exemplos de reforçadores sociais que têm a capacidade de influenciar uma ampla variedade de comportamentos. O valor reforçador de tais estímulos muitas vezes decorre de sua relação de contingência com outros reforçadores “primários” (i.e., estímulos ecologicamente relevantes). Por exemplo, recém-nascidos rapidamente aprendem a discriminar que a atenção da mãe ou de seus cuidadores está relacionada com a disponibilidade de alimento, equilíbrio térmico, alívio da dor, entre outros reforçadores primários.
Da mesma forma que outros primatas, seres humanos dependem da interação com outros indivíduos da mesma espécie para garantir sua sobrevivência. Essa dependência das interações sociais está profundamente enraizada em nossa natureza como seres humanos; como mencionado anteriormente, desde os primeiros estágios de vida, nos desenvolvemos através das interações com nossos cuidadores. Os problemas do ponto de vista clínico surgem quando o comportamento do indivíduo fica excessivamente sob controle de tais reforçadores sociais, a ponto de renunciar a outros reforçadores “naturais” (para uma análise mais aprofundada das diferenças conceituais entre o reforçamento social e o natural, consulte Medeiros, 2012). Em termos cotidianos, poderíamos dizer que o indivíduo começa a viver “em função dos outros”, deixando suas próprias necessidades e desejos em segundo plano, para priorizar a busca por aprovação e aceitação social. Na prática clínica, frequentemente nos deparamos com clientes cujas queixas estão relacionadas ao fato de “sempre querer agradar aos outros”. É comum tais clientes afirmarem que precisam “aprender a priorizar a si mesmos”, mesmo que enfrentem dificuldades ao tentar fazê-lo.
Em terapia, uma possível intervenção consistiria em levar o cliente a refletir sobre as implicações práticas do reforçamento social em sua vida e os possíveis custos de orientar suas ações com base nesses reforçadores. Quanto ao primeiro aspecto, seria adequado questionar o cliente com a seguinte abordagem: “Como exatamente a obtenção da admiração dessas pessoas poderia trazer melhorias concretas para a sua vida?” Alternativamente, também poderia ser explorada a seguinte questão: “O que você está disposto a fazer ou abrir mão para alcançar esta admiração?”.
É igualmente relevante que o cliente considere o nível de controle que ele possui sobre o comportamento das outras pessoas em seu convívio, além da possibilidade de que seus próprios comportamentos possam não ser socialmente reforçados da maneira que espera. Um exemplo ilustrativo seria o caso de um filho que, apesar de cumprir todas as solicitações de seu pai, nunca alcança o reconhecimento desejado. Reconhecer isso pode servir como ponto de partida para explorar formas alternativas de comportamento que possibilitem o contato com situações intrinsecamente reforçadoras.
Por fim, pode ser útil considerar que a maioria das pessoas está tão ocupada com suas próprias vidas e pensamentos que não estão constantemente focadas em observar cada detalhe da nossa vida. Assim, da próxima vez que você se sentir no centro das atenções, lembre-se de que o holofote pode não estar tão brilhante quanto você pensa!
Referências
Gilovich, T., Medvec, V. H., & Savitsky, K. (2000). The spotlight effect in social judgment: An egocentric bias in estimates of the salience of one’s own actions and appearance. Journal of Personality and Social Psychology, 78(2), 211–222. https://doi.org/10.1037/0022-3514.78.2.211
Medeiros, C. A. (2012). A Relação Terapêutica na Psicoterapia Comportamental
Pragmática. Em: Elayne Nogueira, Esequias Neto, Maria Ester e Natalie Brito. (Orgs.).
Terapia Analítico Comportamental: dos pressupostos teóricos às possibilidades de
aplicação (1ª ed.),79-101. Santo André: ESETEC.
Skinner, B. F. (1953/2003). Ciência e comportamento humano. J. C. Todorov & R. Azzi (trads.). São Paulo: Martins Fontes.