“Crianças da pandemia”: Desafios e Possibilidades Atuais

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“Crianças da pandemia” é uma expressão em que me refiro às crianças, principalmente às da primeira infância, que sofreram os efeitos da pandemia do COVID-19 e do isolamento social no período de 2020 até aproximadamente 2022. Ainda que extremamente necessário, com a interrupção do ensino presencial e o aumento do tempo em casa, as crianças tiveram que se adaptar rapidamente a uma nova realidade, em sua maioria, carregada de ansiedade e estresse.

Nesse período, com o fechamento de escolas, creches e espaços de socialização, houve interrupção da rotina e da socialização, limitando as interações sociais das crianças. Esse isolamento social tende a afetar, principalmente, o desenvolvimento social, emocional e cognitivo. Em complemento, o acesso a serviços essenciais, como os de saúde e de educação, foi limitado, tendendo a resultar em atrasos no desenvolvimento, dificuldades de aprendizagem e problemas de saúde não diagnosticados. Foi possível também observar o aumento do estresse familiar: a crise econômica causada pela pandemia, com o estresse adicional de cuidar das crianças em casa, proporcionou, em muitas famílias, um ambiente familiar tenso e hostil. Por fim, e não pretendendo se esgotar, em grande parte das famílias houve falta de estimulação adequada no desenvolvimento cognitivo, motor e emocional, levando em consideração a saúde mental de seus cuidaodores (mãe, pai, avós etc.) e limitação de atividades lúdicas e espaços adequados para tal.

No contexto da superação da pandemia, é possível observar que grande parte dos pequenos tem enfrentado desafios na readaptação ao “novo-antigo” ambiente. Após um grande período de restrições e mudanças drásticas, tenho observado no meu consultório clínico uma séria de dificuldades deles em retornar à rotina pré-pandemica. As dificuldades geralmente estão relacionadas à ansiedade e ao estresse diante de situações sociais e escolares, exigindo um processo de reintegração gradual; e a transição para um ambiente dinâmico e agitado, demandando tempo e apoio emocional.

Nos meus atendimentos, vejo muitas crianças apresentando ansiedade e medo generalizadas para diversas doenças e situações de perigo. O estresse emocional também marca presença: a volta da rotina diária nem sempre acontece da melhor forma (quando acontece), resultando em uma falta de estabilidade e segurança (observados, por exemplo, na dificuldade em dormir e na irritabilidade). Ademais, é possível notar muitas crianças com déficits em repertórios principalmente de habilidades sociais, regulação emocional e cooperação, no contexto de interação com seus pares.

Algumas possibilidades que podem ser adotadas pelos cuidadores de criança, em especial daquelas que passaram a sua primeira infância no período de pandemia, com o intuito de recuperar ou fortalecer habilidades e competências que podem ter sido afetadas durante a pandemia, são:

  • Comunicar-se abertamente, em especial sobre as emoções, diminuindo a ansiedade e promovendo um ambiente seguro para a autoexpressão;

  • Estabelecer uma rotina diária consistente, aumentando o sentimento de segurança e estabilidade;

  • Inserir a criança em diferentes ambientes lúdicos que promovam a socialização, como eventos recreativos, eventos sociais, esportes ou aulas de música;

  • Proporcionar diversas e diferentes experiências enriquecedoras, que possam promover o desenvolvimento cognitivo, motor e emocional, como as atividades relacionadas às artes, música, exploração da natureza, leitura etc.;

  • Buscar aulas particulares/reforço escolar para aquelas disciplinas que a criança está apresentando maior atraso de aprendizagem;

  • Por fim, atentar-se a sinais de necessidades de suporte adicional, como a procura por um psicoterapeuta para avaliações e intervenções personalizadas.

As reflexões e dicas aqui descritas possuem o intuito de serem generalistas, reconhecendo que cada criança apresenta suas próprias necessidades e ritmo para o desenvolvimento de repertórios comportamentais importantes. Faz-se importante enfatizar a necessidade do apoio e amor de forma consistente por meio de seus cuidadores para superar estes e/ou outros desafios da infância, retomando ao seu desenvolvimento emocional saudável.

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Leitura recomendada:

Siegel, D. (2020). O cérebro da criança: 12 estratégias revolucionárias para nutrir a mente em desenvolvimento do seu filho e ajudar sua família a prosperar. nVersos.

Escrito por:

Amanda Viana dos Santos

Psicóloga pela PUC Goiás e mestra e doutoranda em Análise do Comportamento pela UEL. Docente no curso de Formação em Terapia Analítico-Comportamental Infantil do IBAC. Gerencia o Instagram @guiapraticodospequenos

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