As crianças realmente têm o intuito de “testar” os adultos?

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Estamos em constante aprendizado com o mundo, a partir de nossas experiências. Podemos errar ou não desempenhar tão bem uma atividade, mas recomeçamos ou buscamos aprender a lidar com a situação. Assim como os adultos, crianças também podem errar ou se comportar de forma que fuja das expectativas, em especial dos cuidadores (pais, avós, professores, babá etc.) em determinados momentos.

Com a melhor das intenções, na tentativa de corrigir um comportamento, esses responsáveis podem buscar formas de sinalizar que o que foi feito não foi algo adequado. Por exemplo, dizem “está errado” ou “não pode”, brigam, fazem gestos de “não” com o dedo indicador ou cruzam os braços, a deixam de castigo, entre outras possibilidades. A partir disso, a criança pode apresentar a compreensão de que aquela ação não é desejada ou adequada; porém, pouco tempo depois, os cuidadores podem acabar observando que o mesmo comportamento ou outros semelhantes ocorrem novamente. Diante dessa situação, os adultos podem pensar que a criança está se comportamento inapropriadamente para “testá-los”. Será?

As razões pelas quais nos comportamos, na qual inclui-se a criança, podem ser diversas. Não raro, a criança pode apresentar um mesmo comportamento de um colega, por exemplo, seu vizinho, mas, dependendo das motivações desse comportamento, a intervenção sobre ele pode ser diferente. Por isso, para compreendermos e lidarmos com as atitudes dos pequenos, é preciso levarmos em consideração algumas variáveis. Será que somente demonstrar que o que foi feito é “errado” é suficiente para a criança…

  1. Compreender com clareza o que é esperado dela (e não só o que não é esperado) diante da situação-alvo?
  2. Mudar seus comportamentos, e essas novas atitudes serem adequadas para o contexto?
  3. Aprender os (novos) comportamentos desejados naquele momento?
  4. Alterar seus comportamentos, mesmo que a fonte de prazer, diversão ou algum outro benefício seja encontrado somente naquela atividade, na situação?

fonte: unsplash.com

Um exemplo que pode ilustrar os dois primeiros questionamentos citados pode ser a criança que compreende que é errado pular na sua cama como se fosse um trampolim, mas faz mesmo assim. Ao receber algum tipo do aviso de seus cuidadores, ela pode variar seus comportamentos, pulando agora não na sua cama, mas na cama de seus pais, na mesa de jantar, no sofá etc. Diante dessa variação, novas brigas ou outras hostilidades podem novamente vir a ocorrer. Nesse caso, parece que a criança não tem a clareza ou direcionamento em qual lugar poderia ser adequado para ela pular; por exemplo, em um amontoado de almofadas, travesseiros ou cobertores resistentes ou antigos. Assim, no processo de educação infantil, apontar apenas o comportamento indesejável, muitas vezes, não é suficiente, sendo necessário ensinar ou direcionar para atitudes esperadas na situação.

A terceira reflexão propõe uma dedicação maior por parte dos cuidadores. Ainda que algumas atitudes soem claras para os adultos, talvez não o sejam para a criança, que tem poucos anos de experiência com o mundo. Por isso, ainda que para iniciativas simples, é importante os responsáveis ensinem a criança, seja por meio de instruções, dando exemplos ou auxiliando diretamente na ação. Por exemplo, ainda que a solicitação “arrume seu quarto” pareça clara, se não houve um momento de ensinamento do que se quer dizer, pode ser que a criança nada faça, faça parcialmente ou bagunce mais ainda, sem que necessariamente haja esta intenção. Ainda que exista uma descrição mais específica, por exemplo, “arrume a cama e guarde seus brinquedos bagunçados no quarto”, já lhe foi ensinado quando e como fazer isso?

O último item listado sugere uma observação ampla da situação. Se é estritamente por meio de determinados comportamentos que a criança entra em contato com certos benefícios, como a diversão ou a atenção de seus pares, é compreensível que ela continue com as ações, ainda que saiba verbalizar que o que está fazendo não é adequado. Um exemplo corriqueiro que demonstra essa situação é a interação com o vídeo-game, já discutido de uma forma mais aprofundada anteriormente neste artigo: https://ibac.com.br/o-outro-lado-da-moeda-criancas-e-aparelhos-eletronicos/.

Face ao exposto, a ação chave de um processo da educação infantil vai para além de oferecer à criança feedbacks do que foi inapropriado em um contexto. É preciso promover ensinamento direto, instruções ou modelos do que se espera dela em diferentes situações, incentivando as (novas) ações ao valorizarmos cada passo do processo de aprendizagem.

Confira outras dicas e reflexões no meu Instagram @guiapraticodospequenos.

Dica de leitura:

Weber, L. (2009). Eduque com carinho: Equilíbrio entre amor e limites (3ª ed.). Curitiba: Juruá

Escrito por:

Amanda Viana dos Santos

Psicóloga pela PUC Goiás e mestra e doutoranda em Análise do Comportamento pela UEL. Docente no curso de Formação em Terapia Analítico-Comportamental Infantil do IBAC. Gerencia o Instagram @guiapraticodospequenos

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