Uma confusão bastante comum entre estudantes de Análise do Comportamento diz respeito às diferenças entre os conceitos “vocal” e “verbal”. Essa confusão é compreensível, pois, no senso comum, ambos os termos podem ser usados de maneira equivalente para expressar algo “expresso oralmente” ou “em viva voz”. Entretanto, como frequentemente ocorre na Psicologia, o uso ordinário de termos do cotidiano pode ser revisado ao passarem a integrar a terminologia de uma proposta teórica. Foi precisamente isso que ocorreu quando Skinner (1957) propôs a análise funcional do comportamento verbal.
De acordo com Skinner (1957), comportamentos verbais são uma subcategoria de comportamentos operantes, ou seja, são comportamentos estabelecidos e mantidos por suas consequências. No entanto, diferentemente de outros comportamentos operantes “não verbais”, os comportamentos verbais são mantidos por reforçamento mediado pelo comportamento de um ouvinte especialmente treinado para reforçar o comportamento de um falante – outro termo que pode gerar confusão!
Uma característica fundamental da definição de comportamento verbal é que ela não especifica nenhuma modalidade de resposta. De fato, qualquer resposta pode ser classificada como verbal, desde que atenda aos critérios mencionados anteriormente. Assim, indivíduos podem comportar-se verbalmente de inúmeras formas, seja falando, escrevendo, digitando, gesticulando, desenhando, assoviando, tocando um instrumento musical, ou até mesmo emitindo sinais de fumaça! Uma resposta será considerada verbal sempre que se tratar de um comportamento operante mantido por reforçamento mediado pelo comportamento de um ouvinte especialmente treinado.
O comportamento vocal, por outro lado, refere-se a uma modalidade de resposta que emitimos através do nosso aparato fonológico, incluindo pulmões, laringe, cordas vocais, língua, entre outros. Ou seja, quando falamos, estamos emitindo uma resposta vocal. Com exceção dos indivíduos mudos ou surdos, uma parte considerável dos comportamentos verbais ocorre na modalidade vocal, frequentemente coordenada com gestos.
É importante salientar que, primeiro, nem todo comportamento verbal ocorre na modalidade vocal e, segundo, nem toda resposta vocal é verbal. Com relação ao primeiro ponto, como mencionado anteriormente, podemos nos comportar verbalmente através de outras modalidades de resposta, seja escrevendo, assoviando, gesticulando etc. Em relação ao segundo ponto, nem todo comportamento vocal é mantido por reforçamento mediado. Um exemplo claro disso é o choro ou balbucio de um bebê, que inicialmente consiste em uma resposta reflexa (vocal) sob controle de estímulos internos ou externos.
Finalmente, é importante ressaltar que não se trata apenas de uma questão de “terminologia”. De fato, Skinner utiliza as diferentes modalidades de respostas verbais em sua taxonomia de operantes verbais, destacando principalmente as modalidades de resposta vocal e escrita. Mas isso é assunto para uma próxima postagem.
Referências
Skinner, B. F. (1957). Verbal Behavior. New York, USA: Appleton-Century-Crofts, Inc.