Recomendações para a seleção de intervenções em casos de TEA

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Quando falamos na escolha de intervenções em casos de autismo, há muitas dúvidas por parte dos pais e familiares sobre qual decisão poderia resultar em um benefício maior para as crianças, adolescentes e adultos diagnosticados com TEA (Transtorno do Espectro Autista), uma vez que existem diversas práticas popularizadas e disponíveis, apesar de algumas terem evidências insuficientes sobre a sua eficácia e segurança. E em um ambiente onde pais e profissionais estão frequentemente buscando por respostas, é compreensível que soluções simples e promissoras ganhem força, mesmo sem evidências científicas que sustentem as alegações feitas sobre elas.

Dada a complexidade de um tratamento eficaz para crianças com TEA – que envolve uma abordagem interdisciplinar, com a combinação de intervenções educacionais, terapias psicológicas/comportamentais, terapia ocupacional, tratamentos médicos etc. – muitas vezes essas condições são somadas à falta de informação e entendimento sobre metodologia de pesquisa. Frequentemente se distanciam da realidade de grande parte dos familiares, o que pode colocá-los em contato com práticas que, além de não produzirem resultados, também podem ser danosas às pessoas com diagnóstico de autismo. Embora a decisão da intervenção deva se adequar à criança e também deva ser feita por uma equipe previamente treinada sob o rigor da ciência, considerando as necessidades e a história única de cada um, juntamente com o ambiente em que ela vive, ainda há muitas dúvidas quanto à diversidade de intervenções disponíveis para casos de TEA.

Este artigo, portanto, tem como objetivo apresentar, por intermédio dos resultados de alguns estudos, considerações sobre intervenções que podem ser úteis para a família e os profissionais de saúde em sua tomada de decisão (Odom, Collet-Klingenberg, Rogers & Hatton, 2010).

Inicialmente, as intervenções devem apresentar evidências suficientes de eficácia. Por essa razão, é recomendado que a equipe de tomada de decisão considere seriamente se essas intervenções: (a) produziram efeitos benéficos para os indivíduos envolvidos nos estudos de pesquisa publicados na literatura científica, (b) o acesso a intervenções eficazes produziu resultados positivos em longo prazo, e (c) não há evidências de efeitos prejudiciais. No entanto, mesmo intervenções que possuam evidências da sua eficácia, é importante considerar que podem não produzir resultados favoráveis para todos os indivíduos com TEA. A intervenção pode ser contraindicada com base em outras informações individualizadas (a título de exemplo, o uso de prompts físicos para uma criança que exibe autolesão quando tocada).

Acerca das intervenções que não possuem amparo na pesquisa, ou a pesquisa realizada não permite tirar conclusões sólidas sobre a eficácia da intervenção para pessoas com TEA: nesses casos, os tomadores de decisão simplesmente não sabem se a intervenção é eficaz, ineficaz ou prejudicial, uma vez que os pesquisadores não realizaram nenhuma pesquisa ou não conduziram pesquisas de alta qualidade suficientes. Dado o quão pouco se sabe sobre essas intervenções, é recomendado considerá-las apenas após a realização de pesquisas adicionais que exponham resultados favoráveis.

Além do mais, ao selecionar intervenções, as recomendações listadas acima devem ser consideradas juntamente com outras fontes de informação crítica dentro do contexto da prática baseada em evidências. Entre essas fontes estão variáveis do cliente, como situação econômica familiar, contexto cultural e étnico. Também é relevante considerar os valores e preferências dos responsáveis e do indivíduo com TEA, dado que desempenham um papel significativo e indispensável na tomada de decisões. Por isso, é necessário levar em consideração se:

  • Uma intervenção foi corretamente implementada no passado e não foi eficaz ou teve efeitos colaterais indesejáveis?;
  • Uma intervenção é contrária aos valores dos membros da família?; e
  • O indivíduo com TEA indica que não deseja uma intervenção específica?

Por fim, é também responsabilidade do profissional avaliar o contexto econômico na implementação das práticas interventivas, uma vez que sem a possibilidade de efetuar uma intervenção em sua totalidade, até mesmo um programa de intervenção bem elaborado pode ser inútil. Sendo assim, é essencial se questionar: há possibilidade de executar a prática no nível familiar? Os pais têm condições de implementar uma intervenção em casa? Pode haver questões de tempo, dinheiro e estresse a serem resolvidas antes que a família desenvolva as competências necessárias para implementar uma intervenção?

Assim, será possível alinhar intervenções consistentes com a literatura científica às idiossincrasias de cada caso, levando em consideração as particularidades e singularidades dos contextos em que serão implementadas.

Para saber mais:

Odom, S. L., Collet-Klingenberg, L., Rogers, S. J., & Hatton, D. D. (2010). Evidence-based practices in interventions for children and youth with autism spectrum disorders. Preventing School Failure, 54(4), 275-282.

Metz, B., Mulick, J. A., & Butler, E.M. (2005). Autism: A late 20th century fad magnet. In J. Jacobson, R. Foxx, & J. Mulick (Eds.), Controversial therapies for developmental disabilities: Fad, fashion, and science in professional practice. Mahwah, NJ: Lawrence Erlbaum.

Celiberti, D., Buchanan, S., Bleecker, F., Kreiss, D., & Rosenfeld, D. (2004). The road less traveled: Charting a clear course for autism treatment. In Autism: Basic information (pp. 17–31). Robbinsville, NJ: Autism New Jersey.

Como citar este artigo (APA):

Nascimento, L. S. (2024). Recomendações para a seleção de intervenções em casos de TEA. Blog do IBAC. www.ibac.com.br/recomendacoes-para-a-selecao-de-intervencoes-em-casos-de-tea

Escrito por:

Luana Nascimento

Graduada em Psicologia (FAT); Pós-graduanda em Análise Comportamental Clínica (IBAC); Formação em Análise do Comportamento Aplicada (FAT); Formanda em Sexualidade Clínica (CRESCER); e Integrou a participação na Revista Poliglosa sobre práticas culturais feministas (Nuremberg, Alemanha).

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