O Teste do Marshmallow em Crianças

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Provavelmente você conhece ou já ouviu falar do “Teste do Marshmallow”. Caso contrário, ou se deseja relembrar, assista o seguinte vídeo que aproximadamente ilustra esse experimento:

https://www.youtube.com/watch?v=OKNu1qjgXaA

Esse “teste” foi inspirado no experimento de Mischel, descrito no artigo “Delay of Gratification in Children”, publicado em 1989. Em linhas gerais, a pesquisa tinha como um de seus objetivos investigar o efeito do atraso de gratificação em crianças em idade pré-escolar, relacionando-o com o autocontrole ou a impulsividade. Mischel considerou que a escolha da criança entre consumir o único marshmallow disponível imediatamente e não esperar os quinze minutos para obter um segundo refletiria em ela demonstrar impusividade. Por outro lado, se optasse por aguardar os quinze minutos, seria recompensada com mais um marshmallow, demonstrando o autocontrole.

Em seu estudo, foram investigados os seguintes fatores que poderiam ou não favorecer o autocontrole nos participantes crianças:

  • Deixar o doce visivelmente disposto à mesa;
  • Ocultar o doce disposto à mesa;
  • Os tipos de pensamentos que cada criança poderia ter durante a espera dos quinze minutos: pensamentos engraçados, sobre o doce ou nenhum tipo de pensamento em particular.

De forma resumida, os resultados foram:

  • Quando o doce estava visível e a criança não era instruída em pensar algo em específico, a maior parte das crianças mostrou a impulsividade, diferente da condição que o doce não estava visível;
  • Quando a criança era instruída a pensar em algo engraçado, não importava se o doce estava ou não escondido, havia um alto de grau de autocontrole;
  • Quando o pensamento era sobre o doce, estando ele visível ou não, a criança mostrou alto grau de impulsividade.

Os resultados da pesquisa indicam alguns aspectos importantes:

(a) A maneira como a criança reagia aos seus pensamentos predizia o seu comportamento em relação ao doce, sendo o comportamento autocontrolado ou impulsivo;

(b) A participação da criança em uma atividade concorrente possivelmente prazerosa aumentava a probabilidade da espera, então, o autocontrole.

Portanto, o autocontrole não seria determinado apenas por diferenças individuais, mas também por fatores situacionais/ambientais. Isso sugere que ambientes que promovam o desenvolvimento do autocontrole podem ter um impacto positivo no desenvolvimento infantil.

Podemos explorar a evidência encontrada por Mischel: É possível estabelecer a conexão de que o autocontrole pode influenciar no desenvolvimento de muitas habilidades, dentre elas, a criança lidar de maneira mais eficaz com as frustrações ou aprender a ser resiliente em momentos difíceis. A criança pode aprender a não optar por uma alternativa que leve a uma gratificação ou um alívio imediato em menor quantidade em detrimento de uma solução mais vantajosa a longo prazo.

Para ilustrar esse ponto, podemos considerar a seguinte situação: em vez de reagir impulsivamente, como jogar o brinquedo no chão por uma pecinha ter quebrado, a criança escolhe a via do autocontrole. Nesse caso, ela pede ajuda à sua mãe para consertar o brinquedo e, posteriormente, retoma a brincadeira quando desejar. Portanto, o autocontrole pode ter implicações mais amplas no desenvolvimento emocional e comportamental das crianças, em especial por torná-las mais preparadas para tomar decisões ponderadas e enfrentar desafios do dia a dia de maneira mais eficiente.

Existem diferentes estratégias que colaboram o desenvolvimento de escolhas mais autocontroladas, como programar atividades que sugerem a espera pela criança para, posteriormente, desfrutar das consequências gratificantes dessas atividades. Alguns exemplos são:

  • Combinar com a criança em brincar de montar e enfeitar uma peteca caseira, mas que será possível fazer isto somente, por exemplo, na semana seguinte, pois é preciso encontrar e comprar primeiros os materiais necessários para a montagem.

  • Separar as cores de confeitos de chocolate em recipientes diferentes para, somente depois de terminar o trabalho, escolher uma vasilha e poder se deliciar com o chocolate.

  • Brincar de teatrinho ou montar uma coreografia de sua música favorita, em que é preciso ensaiar várias vezes para, depois, apresentar às pessoas queridas e seu trabalho, então, ser apreciado.

  • Adquirir uma muda de plantinha para a criança cuidar e, depois de um tempo, ela crescer forte e bonita, sendo possível apreciar o resultado do seu cuidado e paciência.

  • Pintar a tela de um quadro, em que é preciso esperar cada camada de tinta secar para, depois, continuar a pintura como desejar.

  • Propor à criança a criação de uma obra de arte elaborada (por exemplo, uma escultura), mas estabelecer que isso só será possível após algumas semanas de planejamento e execução.

  • Brincar com o jogo da memória, em que a criança terá um montante considerável de pares de cartinhas após o esforço de se concentrar ao longo da brincadeira.

  • Realizar em etapas a leitura de um livro longo ou uma série de histórias: A cada capítulo ou história concluída, a criança pode receber um pequeno incentivo (como afagos dos seus pais), culminando no prazer maior ao conseguir terminar toda a leitura.

  • Brincar de montar um quebra-cabeça de seu tema favorito ao longo do tempo, em que cada peça pode ser ganha por meio de realizações de tarefas diárias.

  • Convidar a criança a arrecadar fundos ou bens para doação para alguma instituição de caridade, se realizando pela doação e o impacto positivo que gerará para diversas pessoas.

O experimento de Mischel teve um impacto significativo na área da psicologia infantil e educação, destacando a importância de considerar os fatores ambientais para a promoção de habilidades relacionadas ao autocontrole. De 1989 para os anos atuais, muitos outros experimentos foram realizados e novas evidências encontradas, bem como novos modelos teóricos foram estruturados. Apesar dos modelos do estudo e as evidências não serem atuais para interpretar o processo do autocontrole, pela sua popularidade, os achados de um dos primeiros delineamentos para o estudo do autocontrole em crianças trouxeram considerações importantes para a ciência comportamental.

Referência:

Mischel, W., Shoda, Y., & Rodriguez, M. L. (1989). Delay of gratification in children. Science244(4907), 933-938. DOI: 10.1126/science.2658056

Escrito por:

Amanda Viana dos Santos

Psicóloga pela PUC Goiás e mestra e doutoranda em Análise do Comportamento pela UEL. Docente no curso de Formação em Terapia Analítico-Comportamental Infantil do IBAC. Gerencia o Instagram @guiapraticodospequenos

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