O Contexto Importa

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Você age da mesma maneira na presença do seu chefe e dos seus amigos? Por que será que nos comportamos de maneira diferente em locais diferentes ou na presença de pessoas novas?

A área de controle de estímulos estuda como nos relacionamos com o contexto ou ambiente no qual estamos inseridos; ou seja, como nos comportamos na presença de determinados estímulos. Seu desenvolvimento têm nos ajudado a compreender fenômenos humanos complexos, como nosso conhecimento do mundo e de nós mesmos e por isso estudá-lo é tão relevante na psicologia clínica. Esse conhecimento tem ajudado a desenvolver programas de ensino de leitura, escrita, matemática, música etc, além de estratégias para lidar com variadas demandas clínicas no consultório.

No comportamento operante, produzimos consequências no ambiente que, por sua vez, afetam a probabilidade futura de ocorrência do comportamento emitido. Porém, nem sempre vamos emitir aquele comportamento, por mais que tenha sido reforçado. Além disso, às vezes emitimos respostas novas, que não foram reforçadas anteriormente. De acordo com Skinner, precisamos compreender “(…) além da correlação da resposta e do reforçamento, essa correlação adicional com a estimulação anterior. Portanto, três termos devem ser considerados.” – a tríplice contingência.

A relação entre o estímulo discriminativo, o comportamento e a consequência é extremamente importante. É observando a relação entre esses eventos que sabemos quando o comportamento ocorre e qual a sua função (as “causas” do comportamento). Desse modo, podemos planejar intervenções que alterem elementos da contingência e verificar os efeitos sobre o comportamento.

O estímulo discriminativo é o contexto ambiental que antecede uma resposta. Ele estabelece a ocasião ou condição para que o comportamento ocorra e, portanto, se trata de uma relação probabilística e não causal. Em determinados contextos, temos uma alta probabilidade de emitir certos comportamentos. Assim, falar em controle de estímulos é compreender quanto que um estímulo discriminativo vai determinar se um comportamento operante acontecerá.

Ao encontrar amigos em um bar, é bem provável pedir uma cerveja ou outra bebida alcoólica; mas, não é certo que isso irá acontecer. Esse comportamento se torna menos provável, por exemplo, se você estiver tomando antibióticos nessa semana.

Quando um comportamento operante é reforçado, além de aumentar a probabilidade futura de emissão de respostas da mesma classe, o comportamento é colocado sob controle dos estímulos que estavam presentes na situação. Depois que ocorre várias vezes, dizemos que o estímulo passa a controlar aquele comportamento, ou seja, a resposta é provável e frequente na presença daquele estímulo em específico (e improvável e infrequente em sua ausência).

Isso quer dizer que, se tivermos acesso à história de reforçamento diferencial do nosso cliente, podemos prever quando a resposta irá acontecer. Por exemplo, Lucas tem dificuldade em manter hábitos saudáveis. Sabemos que, se ele guardar em casa doces e chocolates, há uma grande chance de que coma tudo de uma vez.

Assim, podemos começar a pensar em intervenções. Podemos diminuir a probabilidade de um comportamento acontecer se o estímulo discriminativo que o controla não estiver presente: Lucas pode combinar com a família de não guardar doces em casa. Também podemos aumentar a probabilidade de um comportamento acontecer ao apresentar o estímulo discriminativo que o controla. Podemos sugerir que Lucas já deixe uma mochila pronta com sua roupa de academia na noite anterior, para quando acordar pela manhã, já tenha tudo preparado para ir treinar.

Esse tipo de análise pode diminuir a sensação de culpa quando Lucas não consegue realizar alguma atividade que gostaria, pois não “basta querer”. Ele terá ferramentas para controlar seu ambiente, tendo maior autoconhecimento e autonomia. E você? Quais estratégias usa para manter hábitos saudáveis?

Para saber mais:

De Souza, D. G. O que é contingência? Em: Banaco, R. (Org.) Sobre Comportamento e Cognição.

Matos, M. A. (1981). O controle de estímulos sobre o comportamento. Psicologia, 7, 1-15.

Sério, T. M. A. P., Andery, M. A., Gioia, P. S., Micheletto, N. Controle de estímulos e comportamento operante: uma introdução. São Paulo: EDUC, 2002

Skinner, B. F. (2019). The behavior of organisms: An experimental analysis. BF Skinner Foundation.

Escrito por:

Renata Cambraia

Editora do blog. Coordenadora de Pesquisas e Publicações no IBAC. Doutora em Psicologia pela Universidade do Minho, Portugal.

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