Intervenções Corajosas na Psicoterapia: A Autorrevelação Estratégica do Terapeuta na Psicoterapia Analítica Funcional

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Fonte: Dean Enkelaar/Unsplash

A autorrevelação da/o terapeuta é uma prática que, quando utilizada de forma estratégica e ética, pode contribuir significativamente para fortalecer a relação terapêutica e promover mudanças no cliente. Essa intervenção, especialmente relevante na Psicoterapia Analítica Funcional (FAP), demanda habilidades que vão além das técnicas tradicionais, exigindo um exercício de coragem, autenticidade e sensibilidade do terapeuta. Segundo Kohlenberg e Tsai (1991), “a FAP é fundamentada na observação direta e na modelagem de comportamentos clinicamente relevantes” (p. 28), e a autorrevelação pode ser uma forma eficaz de evocar e reforçar respostas adaptativas do cliente (CCR2).

A FAP visa criar uma relação autêntica e responsiva entre terapeuta e cliente, onde comportamentos do cliente que se manifestam na sessão são modelados e reforçados de maneira sensível e cuidadosa. A autorrevelação estratégica permite ao terapeuta compartilhar aspectos pessoais de maneira intencional e terapêutica, o que pode incentivar o cliente a se abrir e explorar vulnerabilidades próprias. Estudos indicam que o uso apropriado da autorrevelação fortalece a aliança terapêutica e promove a aceitação mútua e a empatia, ambos essenciais para o progresso do cliente (Tsai et al., 2009).

Autorrevelação Estratégica na FAP: Intenção e Impacto

A autorrevelação na FAP deve ser sempre guiada pela intenção de atender às necessidades do cliente e não do terapeuta. Esse compartilhamento estratégico é usado para modelar comportamentos adaptativos, como aceitação e autocompaixão, promovendo, assim, o desenvolvimento de um ambiente de segurança e empatia. Kohlenberg e Tsai (1991) explicam que o terapeuta pode, por meio da autorrevelação, “evocar e reforçar respostas mais adaptativas” no cliente (p. 42).

Ao se abrir sobre uma experiência própria, o terapeuta atua como modelo e normaliza sentimentos como vulnerabilidade e medo. É importante, no entanto, que a revelação seja cuidadosa e siga limites claros, mantendo o foco no cliente. Estudos indicam que quando a autorrevelação é realizada com essa intencionalidade, os clientes sentem-se mais encorajados a confiar e participar ativamente da terapia (Safran & Muran, 2000).

Um Exercício de Consciência Plena (Mindfulness)

Antes de refletir sobre seu próprio uso da autorrevelação, reserve um minuto para um breve exercício de mindfulness, voltado para o presente momento:

1. Sente-se em uma posição confortável, com os pés firmes no chão e as mãos relaxadas sobre o colo.

2. Feche os olhos e traga a atenção para a sua respiração. Perceba o ar entrando e saindo lentamente, sem tentar alterá-lo.

3. A cada inspiração, observe qualquer tensão no corpo e, ao expirar, permita-se relaxar e liberar o ar de forma natural.

3. Se surgir algum pensamento ou distração, apenas reconheça e, gentilmente, retorne o foco à respiração.

4. Ao final do minuto, abra os olhos e retome a leitura, levando consigo essa calma e presença.

Esse exercício ajuda a cultivar uma postura aberta e receptiva, essencial para o terapeuta que deseja explorar com consciência e cuidado o uso da autorrevelação em suas práticas.

Questões de Aprofundamento

1. Quais são os limites que você considera fundamentais na prática de autorrevelação com seus clientes? Como você decide o que compartilhar ou não?

2. Em que situações a autorrevelação pareceu evocar respostas mais adaptativas de seus clientes? Quais foram os sinais de que a intervenção foi útil para eles?

3. Como você se sente ao compartilhar uma experiência pessoal durante a terapia? Esse tipo de intervenção fortaleceu sua relação com o cliente ou trouxe algum desafio?

Referências

Kohlenberg, R. J., & Tsai, M. (1991). Functional analytic psychotherapy: Creating intense and curative therapeutic relationships. Springer Science & Business Media.

Safran, J. D., & Muran, J. C. (2000). Negotiating the therapeutic alliance: A relational treatment guide. Guilford Press.

Tsai, M., Kohlenberg, R. J., Kanter, J. W., Kohlenberg, B. S., Follette, W. C., & Callaghan, G. M. (2009). A guide to functional analytic psychotherapy: Awareness, courage, love, and behaviorism. Springer Science & Business Media.

Como citar este artigo (APA):

Xavier, R. N. (2024, 22 de novembro). Intervenções Corajosas na Psicoterapia: A Autorrevelação Estratégica do Terapeuta na Psicoterapia Analítica Funcional. Blog do IBAC. https://ibac.com.br/intervencoes-corajosas-na-psicoterapia-a-autorrevelacao-estrategica-do-terapeuta-na-psicoterapia-analitica-funcional/

Escrito por:

Rodrigo Xavier

Psicólogo (UFMS) e psicoterapeuta, Doutor em Psicologia Clinica (USP) com estágio sanduíche na University of Washington sob os cuidados dos Ph.D. Robert Kohlenberg, Mavis Tsai e Johnatan Kanter. Treinador certificado de FAP desde 2021. Líder de encontros do Projeto Global Viva com Consciência, Coragem e Amor desde 2018. Professor nos cursos de Formação em FAP e Terapia Analítico-Comportamental Infantil do IBAC.

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