‘O que’ e ‘como’ percebemos diferentes estímulos ambientais pode estar sob controle respondente – por exemplo, quando percebemos um som repentino com volume alto –, e sob controle operante, por exemplo, quando atentamos a uma dimensão ou aspecto de uma foto. Mas como a Análise do Comportamento explicaria fenômenos perceptivos como a ilusão de ótica?
No dia-a-dia, utilizamos o tempo ilusão como sinônimo de “interpretar erroneamente” algum estímulo ambiental por parte dos nossos sentidos, como visão, audição e olfato. Suponha que você está caminhando em uma trilha no Parque Nacional da Chapada dos Veadeiros (aprox. 220 km de Brasília). Você pisa em um galho verde e leva um susto (dá um salto, fica com o coração acelerado…), achando que era uma cobra. Nesse caso, houve uma generalização de estímulos, já que o galho se parece bastante com uma cobra, e esse estímulo discriminativo também teve a função de eliciar a reação fisiológica do susto.
Já viu gatos emitirem a mesma reação quando apresentados com um pepino? Nesse caso, provavelmente se trata de um reflexo incondicionado, produto da seleção filogenética da espécie.
Talvez você já tenha entrado em contato com o “pato-coelho”, ou outras ilusões comumente estudadas na psicologia, como “o vaso de Rubin”. Nessa ilusão, desenvolvida pelo psicólogo Edgar Rubin, vemos uma imagem com duas interpretações válidas:
- Um vaso branco, ou
- O perfil de duas faces humanas.
As interpretações acima dependem de regras arbitrárias. Quando uma figura é apresentada pela primeira vez, acompanhada da instrução de que é ambígua, pode ocorrer algo similar ao comportamento de procurar um objeto:
– O que você vê na imagem?
– Um vaso.
– Consegue ver outra coisa, além disso?
Diversas respostas podem ocorrer até que o indivíduo, finalmente, chega à interpretação alternativa (i.e., duas faces humanas de perfil). É comum que esse momento seja acompanhado com reações verbais de surpresa: “Eureka!”. Mas, diferentemente de quando manipulamos o ambiente procurando por objetos, a procura pela interpretação alternativa da figura não depende da emissão de respostas públicas que alterem o ambiente externo.
Quando um sujeito recebe reforço por emitir uma resposta apenas diante de estímulos que compartilham certa propriedade, mas diferem em várias outras; e não recebe reforço ao emitir a mesma resposta diante de estímulos que carecem dessa propriedade, ocorre um processo conhecido como abstração. Por exemplo, pombos já foram ensinados a bicar apenas fotos que continham figuras humanas ou discriminar entre imagens de radiologia de tumores benignos ou malignos, para identificar um possível câncer de mama. Mais impressionante ainda, é que os animais foram capazes de generalizar o que aprenderam, bicando também as imagens novas que lhes foram apresentadas. Esse complexo repertório de discriminação condicional de propriedades arbitrárias dos estimulos tem implicação nas relações simbólicas, como o comportamento verbal, ou linguagem – um tema com grande relevância clínica a ser discutido em um próximo artigo.
Para saber mais:
Herrnstein, R. J. (1990). Levels of stimulus control: A functional approach. Cognition,
37(1–2), 133-166. https://doi.org/10.1016/0010-0277(90)90021-B.
Levenson R. M., Krupinski E. A., Navarro V.M., & Wasserman E.A. (2015). Pigeons (Columba livia) as Trainable Observers of Pathology and Radiology Breast Cancer Images. PLoS ONE, 10(11): e0141357. https://doi.org/10.1371/journal.pone.0141357
Magalhães, T. de O. (2019). Percepção de Figuras Ambíguas e Criatividade: uma interpretação analítico-comportamental. Revista Brasileira De Terapia Comportamental E Cognitiva, 21(3), 303–316. https://doi.org/10.31505/rbtcc.v21i3.1354
Shettleworth, S. J. (2012). Do animals have insight, and what is insight anyway? Canadian Journal of Experimental Psychology, 66, 217-266. https://doi: 10.1037/a0030674
Skinner, B. F. (1953/1970). Ciência e Comportamento Humano. São Paulo: Martins Fontes.