Como me Tornei um Analista do Comportamento?

A Análise do Comportamento (AC) é um campo do conhecimento vinculado às Ciências do Comportamento. Frequentemente mal interpretada e, às vezes, até difamada por profissionais de outras abordagens em psicologia (por puro desconhecimento ou questões políticas), a AC sempre desperta paixões e convicções naqueles que a conhecem de forma mais aprofundada. A AC tem na Análise Experimental do Comportamento o seu principal método de produção de conhecimento, de onde derivam os princípios que deram suporte para um sistema filosófico denominado Behaviorismo Radical, para uma ferramenta interpretativa chamada Análise Funcional do Comportamento e para uma vasta área de aplicação conhecida como Análise Comportamental Aplicada (da qual faz parte a área Clínica). Este é um espaço para você saber como profissionais e estudantes de psicologia encantaram-se com a área, algumas vezes passando de opositor declarado para defensor convicto. Como relata o professor Marçal, ao longo de sua experiência como docente em cursos de graduação em psicologia: “é comum ouvir alunos dizerem que estão sofrendo, porque estão gostando da disciplina”. “Sofrendo porque ao terem contato maior com a Análise do Comportamento, vêem enorme coerência, sustentação epistemológica e aplicabilidade, justamente em uma área a qual foram ‘ensinados’ a não gostar”.

Nome: Andréa Dutra
Ocupação: Psicóloga Clínica, professora e supervisora clínico do IBAC.
Titulação: PósGraduação em Terapia Comportamental (UCG).
Graduação: UCG
Depoimento:

“Ao tentar responder a essa pergunta, iniciei uma retrospectiva da minha trajetória profissional e pessoal. É muito interessante como nesse processo de se tornar uma behaviorista radical e analista do comportamento, os efeitos ocorreram sobre todas as áreas da minha vida e funcionamento.
Conheci a Análise do Comportamento no início da graduação. Enquanto alguns colegas mostraram-se resistentes a aprender sobre behaviorismo e análise do comportamento, me encantei! Como todas aquelas informações fizeram sentido e responderam questões relevantes para mim. Apesar da exigência e linguagem tão nova, as aulas de PGE eram instigantes e gratificantes. Desde então, engajei-me em grupos de pesquisa no LAEC (Laboratório de Análise Experimental do Comportamento da UCG), monitorias e estágios na área. Tive grandes mestres, meus iniciadores e guias, professor Luc Vandenbergh, Lorismário Simonassi, Maria Aparecida Menezes e outros. Percebo hoje que até aqui, eu era um embrião nessa trajetória!
Veio a vida profissional e junto a pós-graduação em Terapia Comportamental, também na UCG; e todos conhecimentos foram aplicados e sedimentados. Enfrentei alguns desafios como trabalhar em uma equipe com profissionais de outras orientações filosóficas e teóricas. Essa experiência foi um super treino para mim, analista comportamental clínica iniciante. Aqui, já era um feto em desenvolvimento progressivo, dia após dia, a cada atendimento, reunião de equipe, palestras e aula sempre sobre Análise do Comportamento!
Hoje tenho oito anos de formada e trajetória profissional, e é muito claro para mim que tornar-se Behaviorista Radical e Analista do Comportamento é um processo longo de aprendizagem. Tal como a vida, contínuo e dinâmico; que exige exposição direta a diferentes contingências de reforçamento. Nessa reflexão, constatei algo que já havia compartilhado com meus alunos no IBAC: a experiência de conviver com meu filho. Observar os efeitos dos meus comportamentos e todo contexto familiar sobre o repertório dele é confirmar tudo o que aprendi na Análise do Comportamento. Considero que para se tornar Analista do Comportamento é necessário aplicar o que se prega na própria vida e isso tem sido um empenho consciente, principalmente depois que me tornei mãe. Adquirir repertórios que, muitas vezes, tentamos modelar em nossos clientes. Sabemos, também, que a aprendizagem através do predomínio de contingências de reforçamento positivo gera sentimentos também positivos e amenos ao longo da exposição; e é assim que me sinto nessa trajetória.”

Nome: Fernando Rocha
Ocupação: Psicóloga Clínico.
Titulação: Mestre em Análise do Comportamento.
Depoimento:

“Entrei na Universidade em 1992 querendo ser Psicólogo e tendo como imagem de Psicólogo o Psicanalista. No primeiro semestre uma grande professora, Marisa Monteiro Borges, nos recomendou que explorássemos as várias vertentes e áreas de atuação, pois assim poderíamos escolher melhor o que gostaríamos de ser dentro da Psicologia. Assim foi feito e me abri para conhecer o máximo de áreas e formas de atuação que pudesse.
No segundo semestre, ainda seguindo aquela orientação, Conheci dois importantes professores nesse processo: Antônio de Freitas Ribeiro e Carlos Eduardo Cameschi. Foram importantes porque me mostraram o quanto a Psicologia pode ser científica mesmo abordando questões tão complexas e, às vezes subjetivas, quanto relacionamentos, emoções, trabalho. Nem sempre as aulas eram maravilhosas, na verdade quase nunca eram, mas dois aspectos me tocaram. Um já mencionado, a cientificidade advinda da clareza do método de investigação e outro, a paixão que nutrem pela Análise do Comportamento. Ao final daquele semestre estava “traçado o meu destino” e eu nem havia me dado conta.
Ao longo da graduação sempre procurei ficar aberto às várias vertentes, fiz estágios nas mais diferentes áreas e fiz pesquisas com professores de outras áreas, mas sempre com um pé na Análise do Comportamento. Desta forma me tornei um “cientista” do comportamento, mas ao longo dessa jornada, devido às minhas escolhas, minha formação acabou sendo orientada para a área de pesquisa, e a área clínica foi, em parte, negligenciada. Ao concluir o curso eu tinha a pretensão de me dizer um pesquisador razoável, mas já sabia que não poderia começar a atender na clínica. Faltavam-me duas coisas: habilidades clínicas e maturidade, que eu prefiro chamar de experiência de vida ou habilidades de vida.
Como sabia, e bem, estudar e fazer pesquisa, eu ingressei no Mestrado em Análise do Comportamento, sabendo que ali eu não desenvolveria as habilidades clínicas que me faltavam, mas poderia me ajudar desenvolver as habilidades de vida. Aliado às minhas outras atividades profissionais na época, eu tive um considerável crescimento dessas habilidades ao longo destes anos. Ao sair do Mestrado fiquei envolvido com atividades profissionais alheias à Psicologia por alguns anos até que resolvi desenvolver as habilidades clínicas que me faltavam. Conhecia alguns dos fundadores do IBAC da época da universidade. Também conheci outro instituto onde a Especialização Clínica estava disponível, mas ao comparar quadros de professores, filosofia de ensino, e estruturação do curso, não tive dúvidas em optar pelo IBAC. Hoje, quase concluindo o curso de Especialização em Análise Comportamental Clínica, sinto que minhas escolhas foram acertadas e que minha formação clínica começa a tomar forma e como muitas vezes dizemos para os clientes: “é fazendo que se aprende”, aqui estou, burilando minhas habilidades, não mais de forma segmentada, mas integrando história pessoal com acadêmica e prática clinica, e esse processo não tem um ponto final, nunca estará concluído.”

Nome: João Vicente de Sousa Marçal
Ocupação: Psicólogo Clínico, Professor Universitário, Diretor, professor e supervisor clínico do IBAC.
Titulação: Doutor em Psicologia (UnB).
Graduação: Julho – 1990 – UniCEUB
Depoimento:
“Ironicamente, entrei para o curso de Psicologia sendo um antibehaviorista!
Com formação inicial em Educação Física, havia lido um livro chamado Educação Física Humanista, em que o autor faz uma apologia ao humanismo de Carl Rogers, em oposição ao behaviorismo de Skinner, tratado como desumano e insensível. No entanto, meus primeiros contatos com os princípios de análise do comportamento através de alguns livros, foram acompanhados de grande aceitação e constatação de sua grande coerência no cotidiano.
Ao longo do curso de graduação, fui percebendo que o conteúdo do livro que havia lido antes de fazer psicologia, era o resultado de uma profunda ignorância que o autor tinha sobre kinner e sua obra. Com o tempo, a proximidade com o behaviorismo foi ficando cada vez maior. De forma curiosa e ao contrário do que comumente ocorre, não posso afirmar que algum professor tenha tido influência nesta aproximação, pois alguns dos professores de PGE que tive, ao contrário do que prega o behaviorismo radical, relacionavam-se de modo coercitivo com os alunos e não ofereciam condições para um aprofundamento de temas e discussões relevantes. Apesar disso, a força do conteúdo oferecido pelos textos foram muito forte.
Ao fim da graduação, comecei a fazer em Brasília uma formação em Terapia Comportamental, um curso que me foi útil para dar os primeiros passos na clínica. No entanto, este curso era baseado no ensino de técnicas comportamentais descritas nos manuais das décadas de 1960 e 1970, sem formação filosófica (algo indispensável para a boa formação de um clínico analítico-comportamental), aprofundamentos teórico-conceituais e com um grande viés cognitivo (“as pessoas sofrem porque pensam mal”). Foi através da minha entrada no mestrado na UnB, em 1993/1994, que passei a ter uma formação conceitual e filosófica consistente, fato este que resultou numa completa revolução nas minhas concepções clínicas e acima de tudo, uma profunda paixão pelo Behaviorismo Radical e pelo seu alcance aplicado.
Foi neste período que germinou, entre alguns alunos do mestrado, a necessidade de se criar um lugar que pudesse preparar terapeutas comportamentais com formação completa e fortemente comprometidos com a Análise do Comportamento, um centro que agregasse os envolvidos nesta área e que também a difundisse através dos mais variados eventos. O resultado foi o surgimento do IBAC, a primeira instituição privada de AC do centro-oeste e a segunda do Brasil.
Hoje, revendo minha trajetória, posso dizer que desde o meu primeiro contato com os princípios de Análise do Comportamento e o Behaviorismo, em 1986, o envolvimento e a paixão têm sido crescentes. Minhas convicções sobre o alcance de uma ciência do comportamento, que já eram sólidas quando me graduei, foram ficando cada vez mais fortes ao longo dos anos.”

Nome: Marcela Abreu Rodrigues
Ocupação: Psicóloga clínica e hospitalar
Titulação: Mestre
Graduação: Psicologia – UnB
Depoimento:
“Eu praticamente nasci dentro de uma caixa de Skinner! Meus vizinhos eram ratos e pombos e minha diversão era ganhar prêmios em pesquisas com as “tias” da UnB. ehehehe Com a mãe professora e pesquisadora da UnB e analista do comportamento tive um ótimo exemplo em casa.
Entrei na Psicologia procurando conhecer tudo que ela poderia me oferecer e logo de cara me interessei pela AEC (não tinha pra onde correr). Todas as minhas angústias de início de semestre desapareceram depois que fiz PGE e aprendizagem (é claro, com a ajuda da mamãe). Ainda na graduação, iniciei o curso de formação no IBAC e, já trabalhando dentro da área da saúde, vi a imensa força que a AEC tem nessa área. Me apaixonei de vez!! Terminei o curso e a graduação. Fiz o mestrado em desenvolvimento humano e saúde na UnB sempre com o pé no Laboratório de AEC e mais uma vez constatei a grande contribuição da abordagem. Me sinto realizada.”

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