Organização financeira faz parte do nosso trabalho

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Em meu post anterior há uma descrição de atividades que fazem parte do lado empreendedor da carreira clínica na psicologia. E, como prometido, ainda há de se falar sobre questões financeiras. Esse assunto geralmente traz desconforto para terapeutas, já que o nosso trabalho muitas vezes é associado a uma “boa ação”, caridade ou algo do tipo.

No entanto, devemos relembrar constantemente o caminho percorrido (e a percorrer) para sermos terapeutas de qualidade: graduação, pós, cursos de formação e/ou extensão, livros, congressos, treinamentos, supervisões, terapia própria, materiais e até mesmo estrutura para realizar os atendimentos. Todos esses fatores envolvem custo financeiro (altíssimo em sua maioria), não é?! Além disso, muitas/os de nós temos a psicologia clínica como fonte principal de renda o que incluiria, então, um salário para custear nossas despesas mensais. Outro ponto que precisa ser ressaltado é que toda a parte de pagamento e custos com terapia, por parte dos nossos clientes, também pode ter um efeito terapêutico importante no processo.

Dito isso, vamos pensar em algumas tarefas que envolvem organização financeira?

1. Precificar

Muitos profissionais da psicologia têm dificuldade com isso. Como o trabalho clínico envolve vínculo, vulnerabilidade e acolhimento, isso pode ser confundido com o que foi mencionado acima. Porém, toda essa relação ocorre por meio da prestação de serviços por pessoas qualificadas para tal. Saber precificar envolve não só considerar o investimento feito para trabalhar com excelência, nossa fonte de renda, mas também valorizar a própria profissão.

Então o que você pode considerar ao calcular o valor da sua sessão? O quanto você gostaria de ganhar de salário mensal (de início, com os pés no chão, hein?! Pense em suas despesas mensais e uma vida equilibrada), quantidade de horas semanais/mensais destinadas a atendimentos, tributos e impostos, custos fixos para manter o negócio, demais despesas (ex., investimento no próprio negócio, manutenção, cursos, congressos etc) e, sugiro ainda, planejar-se para férias e feriados diluindo os valores ao longo do mês ou ano (já que não atendendo nestas datas, a renda diminui).

Você também pode fazer uma análise sobre o público que você deseja atender – idade, renda dessas pessoas, se é acessível a elas etc. Uma possibilidade, além da cobrança por sessão, é avaliar valores para pacotes mensais, já pensou nisso? A terapia é um processo que demanda engajamento ao longo do tempo e um pacote mensal definido pode ser benéfico para a organização financeira dos clientes (além de terapêutico) e também possui benefícios para terapeutas.

2. Cobrar

A dica de ouro é: Se desde o início (seja por um contrato físico/virtual ou verbal) os clientes souberem o preço, como e quando serão cobrados, formas de pagamento, não há mistério.

Tudo flui de uma forma muito organizada e fica mais fácil, caso você precise fazer reajustes nos valores anualmente, cobrar alguma sessão atrasada etc. Algo que funciona bem é estabelecer uma rotina ao final/início de cada mês para indicar ao cliente quantas sessões devem ser pagas ou o dia em que o pacote deve ser acertado. Assim, o cliente já fica acostumado e você cria o hábito de cobrança, além de diminuir as chances de ficar sem receber.

3. Controlar

Nunca deixe os pagamentos acumularem, isso poderá te atrapalhar na organização, esquecer de fazer alguma cobrança, gastar além do que recebe, dentre outros problemas. Você pode ter este controle por meio de anotações em papel, planilhas ou até mesmo sistemas que auxiliam neste processo. Inclua, por cliente, sessões a serem cobradas, datas e valores pagos. É importante separar as finanças pessoais das profissionais, ter anotações do que você recebe e o do que você gasta (aluguel do consultório ou sublocação, condomínio, energia, internet, impostos, anuidade do CRP etc).

LEMBRE-SE de emitir nota fiscal ou recibo de tudo o que receber, estar em dia com anuidade do CRP, com os impostos e demais questões burocráticas: algumas dessas coisas são trabalhosas e precisamos nos informar acerca delas, para estarmos regulares não só com o CRP, mas também com o governo. Acho válido buscar orientação com contadores, pois alguns detalhes extremamente importantes não podem ser esquecidos e, como sabem, não fomos ensinados a ter noções básicas de contabilidade. Mensalmente essas tarefas devem entrar na agenda também.

4. Dica Extra: Planejar

Tente ter um planejamento financeiro. Possivelmente você precisará também incluir nas suas contas uma programação para ter um dinheiro a mais em caso de férias, se quiser algo semelhante ao 13º dos celetistas, reserva para a aposentadoria ou para emergências… Sabemos que a clínica tem uma certa rotatividade, mas com a prática é possível calcular uma média de valores e se planejar melhor.

Então, é claro que incluir estes planos, além de despesas para a nossa formação (cursos, livros e congressos), é interessante. Exemplo: A anuidade do CRP vem no início de cada ano e é mais em conta se você pagar a parcela única. Então a cada mês durante o ano você pode guardar uma pequena quantia – pode ser 1/12 do valor da anuidade – e então quando o boleto chegar, você não se aperta e já tem a quantia total. E assim pode fazer com despesas de impostos que não são mensais, além de reservas de emergência, reservas para férias e/ou 13º também. Ah! Vale a pena pesquisar sobre INSS e seguros que incluam despesas em caso de internação, doenças, invalidez etc; afinal, vamos lembrar que, se a gente não puder atender nossos clientes por esses motivos, não iremos também receber.

Espero que essas tenham sido dicas úteis, embora não sejam regras e dependam muito das necessidades individuais. Por ser um tema pouco falado em nossa profissão, fiquem à vontade para trocarmos informações a respeito.

Escrito por:

Jéssica Barbosa

Coordenadora da Clínica-Escola, Psicóloga clínica e Professora no IBAC. Mestra em Ciências do Comportamento (Universidade de Brasília)

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