Já ouviu falar em Prática Baseada em Evidências?

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Divulgadores científicos têm conseguido mais visibilidade em seu trabalho nos últimos anos. Apesar de não chegar à notoriedade de atletas, musicistas e comediantes, já temos no Brasil jornalistas como Luiza Caires e cientistas como Natalia Pasternak e Átila Iamarino com uma quantidade expressiva de seguidores em suas redes sociais. Estes influenciadores têm advogado pelo uso do conhecimento científico na tomada de decisões governamentais dentro de um contexto de pandemia de coronavírus.

Na Medicina, tem-se ressaltado a importância da Prática Baseada em Evidências (PBE) para contrapor notícias falsas (as infames fake news) sobre supostos tratamentos – muitas vezes “milagrosos” – para a COVID-19 que têm sido promovidos, inclusive, por profissionais médicos. De maneira geral, a PBE em saúde é uma maneira de abordar a prática do profissional em que a tomada de decisão é realizada com base em três pilares fundamentais: a expertise do profissional, os valores do paciente ou cliente, e a melhor evidência científica disponível.

Diagrama de conjuntos. Um círculo vermelho escrito melhor evidência, um círculo amarelo escrito expertise profissional e um círculo azul escrito valores do cliente. No centro diz PBE.

A expertise profissional é a sua competência clínica. Envolve sua formação como profissional atrelada a sua experiência prática no contexto de trabalho. No Brasil, a formação do psicólogo é generalista, buscando capacitar para uma ampla gama de possibilidades de atuação. Porém, há uma grande demanda e mercado para a atuação na área clínica que é apenas parcialmente compreendida dentro do curso, gerando uma busca por outros cursos de formação e pós-graduação. Além disso, estágios supervisionados na graduação e na pós irão complementar as competências de conhecimento teórico com competências práticas do psicólogo clínico.

O fator valores do cliente envolve considerar suas preferências, suas características particulares e o contexto no qual está inserido. Considero que, assim como a expertise, esta característica é bastante contemplada dentro do currículo de uma graduação em psicologia. 

A busca pela melhor evidência científica disponível talvez seja o aspecto menos enfatizado na formação do profissional da saúde e talvez o mais importante. Não é uma atividade trivial, pois envolve uma série de conhecimentos, como buscar e encontrar estudos na literatura científica, compreender as diferentes metodologias de pesquisa em clínica e avaliar criticamente a qualidade das evidências encontradas. 

A vasta maioria dos cursos de psicologia no país ocorrem em instituições privadas com foco em ensino para o mercado de trabalho e pouca a nenhuma ênfase em pesquisa. As instituições públicas, por outro lado, oferecem muitas oportunidades em pesquisa, desenvolvendo parcialmente essa competência necessária para a prática clínica de acordo com a PBE. 

Então para ser um bom psicólogo clínico é necessário ser também pesquisador?

Na verdade não, um psicólogo precisa apenas saber consumir pesquisas para poder juntar essa informação à sua experiência clínica e tomar decisões sobre o tratamento mais adequado a seu cliente. Assim, uma série de passos devem ser seguidos:

Fonte: Hospital Moinhos do Vento

1. Primeiro temos uma demanda ou problema clínico. A questão de pesquisa é a dúvida ou a incerteza do profissional sobre um determinado tema, isto é, o problema clínico em questão. Na prática, está relacionada ao profissional precisar saber qual o melhor método de avaliação, diagnóstico ou tratamento de alguma patologia. Lembrando que estamos trabalhando com um modelo biomédico, no qual buscamos qual o melhor tratamento para um cliente com diagnóstico ou transtorno específico.

2. Tendo clareza da questão, vamos à busca da melhor evidência. Identificar a melhor evidência exige do profissional o conhecimento do manuseio em bases de dados e bibliotecas. Alguns exemplos são a plataforma scielo, para artigos nacionais; pubmed, para internacionais; e até o google acadêmico.

3. Também é muito importante a diferenciação dos tipos de estudos, porque a melhor evidência tem relação direta com os desenhos de estudos científicos, ou seja, os diferentes delineamentos. A melhor evidência científica é aquela com delineamento de estudo metodologicamente mais rigoroso.

4. Agora precisamos avaliar a literatura encontrada. Para analisar e interpretar a qualidade dos artigos selecionados, é importante ter conhecimento metodológico para identificar erros e conclusões possíveis e conhecimento estatístico para interpretar os resultados.

5. Para finalizar, consideramos também as preferências, os valores e as possibilidades dos clientes. Isso leva a uma melhor adesão e resultados no tratamento escolhido. Por exemplo, você não vai exigir que seu cliente leia um livro inteiro, como parte essencial do seu programa de intervenção terapêutica, se avaliar que ele apenas assiste séries e não tem repertório de leitura. Ou pior, pedir dever de casa escrito a um cliente que não saiba escrever.

Falarei em artigos futuros em mais detalhes sobre os pontos mencionados acima e outras questões relacionadas à Prática Baseada em Evidências na Psicologia.

Algumas referências para iniciar seus estudos sobre a PBE:

Leonardi, J. L., & Meyer, S. B. (2015). Prática baseada em evidências em psicologia e a história da busca pelas provas empíricas da eficácia das psicoterapias. Psicologia: Ciência e Profissão35(4), 1139-1156. https://doi.org/10.1590/1982-3703001552014 

Melnik, T., & de Souza, W. F., & Carvalho, M. R. (2014). A importância da prática da psicologia baseada em evidências: aspectos conceituais, níveis de evidência, mitos e resistências. Revista Costarricense de Psicología, 33(2),79-92. https://www.redalyc.org/articulo.oa?id=476747238008

Curso gratuito Prática Clínica Baseada em Evidências e o Contexto da Pesquisa Clínica: https://edx.hospitalmoinhos.org.br/course/pratica-clinica (não é aplicado à psicologia)

Quer saber mais sobre PBE em Psicologia e Análise do Comportamento, aprender mais sobre pesquisas em clínica? Vamos conversar! Deixe seu comentário abaixo.

Escrito por:

Renata Cambraia

Editora do blog. Coordenadora de Pesquisas e Publicações no IBAC. Doutora em Psicologia pela Universidade do Minho, Portugal.

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