Autismo: Como utilizar os reforçadores no desenvolvimento de repertórios comportamentais?

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É amplamente reconhecido que nas intervenções em TEA (Transtorno do Espectro Autista), o desenvolvimento de repertórios comportamentais dependerá do uso de reforçadores. Sendo assim, não basta apenas planejar uma intervenção com antecedentes; é essencial garantir a disponibilidade de reforçadores adequados para cada criança e para cada situação específica.

Mas, afinal, o que são reforçadores?

Os reforçadores são estímulos que aumentam a frequência dos comportamentos (Moreira & Medeiros, 2007). Por exemplo, quando uma criança solicita “suco”, é porque esse comportamento foi reforçado com a apresentação de um suco em algum momento na sua história de vida. Portanto, para ensinar novas respostas ou manter aquelas que já estão estabelecidas, é fundamental a presença de estímulos reforçadores.  

Embora isso seja consensual entre teóricos e profissionais, sua aplicação na prática muitas vezes apresenta desafios. Durante o processo terapêutico, surgem dúvidas sobre a eficácia dos reforçadores e a maneira correta de utilizá-los. Às vezes, observa-se uma falta de progresso no desenvolvimento do repertório, levantando questões sobre a responsabilidade dos reforçadores nesse processo. Diante dessas incertezas, apresentarei algumas dicas que podem auxiliar na implementação de estratégias efetivas no desenvolvimento de comportamentos.

Antes de iniciar o ensino de habilidades e repertórios comportamentais com a criança, é importante identificar quais estímulos funcionam como reforçadores para ela. Para isso:

  • Pergunte: Pergunte à criança, a mãe, o pai, a babá, os irmãos, os professores, ou qualquer pessoa próxima, sobre os interesses da criança.

  • Observe: Atente-se ao que a criança escolhe espontaneamente para brincar. Esteja ciente de que suas preferências podem incluir itens pouco convencionais, como uma caixa de papelão, uma presilha de cabelo, um espelho ou uma borracha. Não se preocupe, por enquanto, com a possível excentricidade dessas escolhas.

  • Teste: Permita à criança escolher entre diferentes itens em uma mesa. Pode ser interessante ter vários objetos como potenciais reforçadores sobre a mesa, dessa forma, você poderá oferecer dois ou três objetos diferentes a cada vez para ela escolher. Lembre-se de apresentar diferentes categorias de reforçadores, como, por exemplo: comestíveis e brinquedos.

  • Force uma escolha: Dê à criança a escolha entre dois – “Fulaninho, você quer a bola ou um carrinho?”.

No entanto, não basta conhecer os reforçadores. Apesar de ser indispensável, outras estratégias precisarão ser adotadas. Com o objetivo de fornecer aos terapeutas e profissionais que trabalham com TEA, maneiras de auxiliar o desenvolvimento e manutenção de repertórios e habilidades dessas crianças, abaixo estarão alguns procedimentos que poderão ser úteis em uma intervenção:

  • Associe a si mesmo com o reforçador. Esta estratégia mais utilizada é o pareamento de estímulos neutros (você) com estímulos incondicionados, para que os neutros se tornem reforçadores condicionados (Dozier, Iwata, Thomason-Sassi, Wordsdell e Wilson, 2012; Fiske, Isenhower, Bamond, Delmolino, Sloman e LaRue, 2015; Moher, Gould, Hegg e Mahoney, 2008; Russell, Ingvarsson, Haggar e Joshua, 2018).

  • Ou seja: antes mesmo de fazer qualquer coisa como terapeuta, tenha algum tempo com a criança estabelecendo uma relação reforçadora. Pareie-se a todas as suas coisas favoritas. Se ele gosta de biscoitos, então você será a pessoa a lhe dar os biscoitos. Se o interesse é por carrinhos, seja a pessoa que traz os carrinhos para ela. Lembre-se: parear é uma situação sem demandas. Você não estará pedindo à criança para fazer nada além de ficar perto e gostar de você.

  • Associe os reforçadores com elogios. Reforçar, frequentemente, começa com tangíveis e comida. No entanto, associá-los a elogios sociais, por exemplo, poderá fazer com que os elogios venham a ser igualmente eficazes. Possibilitando, assim, que os reforçadores sociais possam vir a ser usados sozinhos. Isto acabará por ajudar a ficar sob controle de reforçadores sociais em outros ambientes e com outras pessoas, o que contribuirá no desenvolvimento de repertórios e habilidades em outras situações.

Em resumo, o processo de reforçamento desempenha um papel fundamental nas relações humanas, das mais simples às mais complexas. É através dele que muitas respostas podem ser fortalecidas e novos comportamentos podem ser adquiridos (Novais, 2019). Assim, os procedimentos descritos acima podem oferecer aos terapeutas e profissionais que trabalham com TEA meios de desenvolver habilidades e repertórios comportamentais nos seus clientinhos.

Para mais informações, acesse o Instagram: @psiluanascimento

Para saber mais:

Moreira, M. B. e Medeiros, C. A. (2007). Princípios Básicos da Análise do Comportamento. Porto Alegre: ArtMed.

Taylor-Santa, C., Sidener, T. M., Carr, J. E., Reeve, K. F. (2014). A discrimination training procedure to establish conditioned reinforcers for children with autismo. Behavioral Interventions, (29), 157-176. doi: 10.1002/bin.1384

Tomanari, G. Y. (2000). Reforçamento Condicionado. Revista brasileira de terapia comportamental e cognitiva1(2), 61-77.

Escrito por:

Luana Nascimento

Graduada em Psicologia (FAT); Pós-graduanda em Análise Comportamental Clínica (IBAC); Formação em Análise do Comportamento Aplicada (FAT); Formanda em Sexualidade Clínica (CRESCER); e Integrou a participação na Revista Poliglosa sobre práticas culturais feministas (Nuremberg, Alemanha).

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